Eric Lichtenstein foi o grande nome da esvaziada F-Ford em 2012

Não gosto de usar expressões como “campeão moral” ou dizer que “fulano mereceu mais ficar com a vitória”. Elas elas passam a ideia de que determinado atleta não fez mais do que a obrigação em conquistar um título, enquanto outro – geralmente dotado de uma incrível história de superação – terminou com o segundo lugar em um final dramático.

Essas frases são bastante injustas com o vencedor, pois fazem parecer que entrar em uma competição esportiva e terminar no primeiro lugar é algo fácil de se fazer. Dessa forma, às vezes elas acabam escondendo quem se preparou melhor durante a pré-temporada ou quem trabalhou mais duro durante todo o campeonato e acabou justificando o favoritismo no final do ano.

Na F-Ford Inglesa, que terminou no último final de semana, aconteceu algo parecido. De um lado estava o finlandês Anti Buri, de 23 anos, e veterano de quatro temporadas na categoria. Do outro, Eric Lichtenstein, argentino de apenas 17 anos, que fez sua estreia no automobilismo europeu.

Como já era de se imaginar, Buri começou a temporada na frente. Nas primeiras 12 corridas da temporada, o nórdico largou na pole-position em 11 oportunidades e terminou na frente em oito. Lichtenstein venceu duas vezes, enquanto os demais triunfos ficaram com os britânicos Jake Cook e Luke Williams.

Esse é um desempenho esperado na maior parte dos campeonatos. Normalmente os veteranos costumam abrir boa vantagem nas primeiras corridas, mas acabam sendo alcançados pelos pilotos menos experientes nas etapas finais. No entanto, conseguiram abrir vantagem suficiente para terminar com a taça. Para provar isso, basta ver o que aconteceu na GP2. Davide Valsecchi e Luiz Razia tiveram cinco vitórias somados nas primeiras 12 corridas, mas cada um só conseguiu triunfar uma vez na parte final do ano.

Ver o piloto argentino no alto do pódio se tornou lugar comum na segunda metada do campeonato

Voltando à F-Ford, o mês de julho mostrou a reação do piloto argentino. Mais acostumado com o carro e com o automobilismo europeu, Eric aproveitou a pausa no campeonato inglês para se dedicar às etapas finais da F-Ford Eurocup. Das seis corridas disputas entre Zandvoort e Nurburgring, o piloto conquistou cinco pole-position, quatro voltas mais rápidas e três vitórias. Pena que o certame não tem um campeão, servindo apenas como rounds separados, do contrário o hino portenho iria tocar mais vezes em solo europeu.

Só que o bom desempenho nas pistas europeias motivou Lichtenstein na Inglaterra. Nas últimas 12 provas, o piloto só não largou na frente em uma e conseguiu nove vitórias no geral.

Em um determinado momento, a imprensa inglesa e os fãs da categoria acabaram comprando a briga de Eric e realmente começaram a torcer por ele durante o campeonato. No entanto, a vantagem que Buri havia estabelecido no início do ano era tão grande que o sul-americano precisava praticamente de um milagre para encerrar o campeonato.

No final, não deu. Além de perder de Buri, Lichtenstein também acabou superado por Jake Cook, ficando com a terceira colocação.

Só que o bom desempenho do argentino chamou a atenção em toda a Inglaterra. Tanto é que o piloto já anunciou que vai disputar a temporada 2013 da GP3 pela Carlin, equipe vice-campeã da última temporada com o luso Antonio Félix da Costa.

Obviamente, é muito cedo para falar se o jovem piloto argentino terá sucesso na carreira, mas ele já causou uma boa primeira impressão ao dominar a F-Ford contra adversários muito mais experientes.

No final, acho que seria divertido assistirmos a um campeonato disputado entre um piloto argentino e um brasileiro. Não digo isso baseado naquele escracho global de que vencer a Argentina é muito melhor, falo apenas pelo fato de se tratar de um clássico sul-americano. O único problema é se for disputado em um certame com corridas noturnas, aí pode ser que a luz acabe antes de termos um vencedor…