Trevor Bayne
Sem patrocinadores, Trevor Bayne disputou a etapa de Las Vegas da Nationwide com um carro mais em branco que minha conta bancária. Esse é o fim da linha para o garoto na categoria

Trevor Bayne viveu altos e baixos na temporada 2011 da Nascar. O piloto começou o ano surpreendendo a todos ao vencer a Daytona 500, mas depois disso não conseguiu mais emplacar bons resultados nem na Sprint Cup nem na Nationwide, onde originalmente estava inscrito.

Para piorar, o americano teve uma reação alérgica ao ser picado por uma aranha e perdeu mais de um mês de competições internado em um hospital. Foi o suficiente para ficar longe da disputa pelo título da divisão de acesso assim como foi obrigado a assistir ao All Star Weekend pela televisão, mesmo estando classificado – e com patrocinador garantido – para a corrida principal.

Mesmo com esses maus momentos, Bayne fechou 2011 com a esperança de alcançar melhores resultados nesta nova temporada, após vencer a etapa do Texas da Nationwide.

No novo campeonato, o piloto teve um rendimento muito melhor que no ano anterior. Trevor foi o 11º na abertura em Daytona, mas vale lembrar que ele estava disputando a vitória quando Kurt Busch cometeu um erro e ocasionou o grande acidente da última volta. Depois, terminou a etapa de Phoenix em sétimo e a de Las Vegas em quarto.

Assim, com 112 pontos, ocupa a quarta colocação na tabela de pontos da Nationwide, estando apenas 19 atrás do líder Eliott Sadler. Só que esse bom momento já tem data para acabar: neste sábado, dia 17, quando a categoria realiza a quarta etapa da temporada 2012, em Bristol.

Nas três primeiras corridas, Bayne competiu com o carro número 60 em branco, sem nenhum patrocinador. A Roush-Fenway, por sua vez, não escondeu em momento algum que essas três semanas eram o prazo final para a chegada de algum investidor que pudesse garantir a presença do piloto até o final da temporada. Como ninguém se manifestou, a equipe deve inscrever apenas Ricky Stenhouse Jr. a partir de agora.

Ricky Stenhouse Jr.
Vencedor em Las Vegas, Ricky Stenhouse Jr. só tinha a própria Ford como patrocinadora. E a montadora só fazia a função de 'tapa-buraco'

Já escrevi aqui uma vez e acho interessante repetir. Nessas horas, quem defende a presença dos pilotos da Sprint Cup na categoria de acesso – com o velho chavão de que atraem patrocinadores/audiência – não se manifesta. E não é só Bayne que deve ficar sem vaga, outro que corre o risco de não participar das próximas etapas é Kenny Wallace. Enquanto isso, toda vez que um piloto da divisão principal da Nascar ‘desce’ para andar no campeonato menor, há 489141 empresas dispostas a patrociná-lo.

Como consequência, a disputa pelo Novato do Ano da Sprint Cup é entre os aclamadíssimos Timmy Hill e Josh Wise. Lembrando que Andy Lally é o atual vencedor do prêmio e Kevin Conway o conquistou em 2010. Será que a Nascar e as equipes não percebem que não há renovação no grid da divisão principal porque não há investimento no campeonato de acesso?

Evidentemente, a pressão já começa a chegar nas equipes da Sprint. Falando ainda da Roush-Fenway, que é o assunto deste post, o time está em uma posição bastante desconfortável. Ela tem sido bastante criticada pela incapacidade total de fechar acordos de patrocínios para os pilotos, nos últimos anos.

É claro que todas as equipes estão com dificuldades de arrumar investidores por conta da crise econômica, mas nenhuma tem tantos problemas quanto a Roush. Enquanto a RCR não teve muitos percalços para trazer a Budweiser quando Kevin Harvick perdeu o apoio da Shell/Pennzoil e a Hendrick garantiu a Farmers Insurance para Kasey Kahne com a saída da GoDaddy, o time da Ford tem visto os investidores saírem, mas sem novos  parceiros chegarem.

Trevor Bayne
Mesmo com a falta de investidor, Trevor Bayne tem conseguido bons resultados na Sprint Cup

O problema começou no início de 2010, quando a DeWalt deixou de investir em Matt Kenseth. Como a equipe tinha cinco carros na época, e a Nascar a obrigava a correr apenas com quatro, foi natural que o investidor de Jamie McMurray (o piloto que sobrou) – a Crown Royal – fosse transferido de carro. Apesar disso, na sequência, a própria Crown Royal, além da UPS (que investia em David Ragan) e a Aflac (de Carl Edwards) deixaram a categoria ou tiraram quase todo o investimento feito.

Como resultado, a Roush passou a inscrever apenas três carros na Sprint. Para Kenseth, Edwards e Greg Biffle. No geral, apenas o número 99 não tem problemas de patrocínio. Com o piloto sempre brigando por títulos e vitórias, é natural que as empresas queiram investir nele. Biffle também parece satisfeito com o dinheiro da 3M, mas Kenseth ainda tem etapas ‘em branco’ para 2012. Some-se a isso os problemas de Stenhouse e Bayne na Nationwide e o fato de eles não terem conseguido fazer a transição para a Cup de forma integral, e a crise está instalada por lá.

No final, mesmo com os problemas na Roush, é muito difícil colocar só na conta deles os problemas de patrocínio que envolvem Trevor Bayne. Embora seja verdade que a equipe deveria ter encontrado uma forma de garantir a presença dos principais pilotos, dificuldades com investidores acontecem a todo momento no automobilismo.

Enquanto o esporte a motor não encontrar uma forma mais inteligente de se gastar dinheiro – e não falo somente na Nascar, mas no geral –, a tendência é que cada vez mais apenas uma nata consiga correr: aqueles que tiveram sorte o bastante de conseguirem pagar pelas vagas, independente do talento nas pistas.

Bayne, por sua vez, talvez seja obrigado a assistir às etapas da Nationwide pela TV. Mas o piloto deixa Las Vegas com sensação de dever cumprido, afinal, além da quarta colocação na Nationwide, o piloto terminou a corrida da Cup em nono, conseguindo o primeiro top-10 na categoria desde a vitória em Daytona. Para uma equipe limitada como é a Wood Brothers, esse certamente é um grande resultado.