Carro de Jacques Villeneuve na Stock Car
Não sei quanto a vocês, mas achei o esquema de pintura de Jacques Villeneuve sensacional

Acho que todo mundo já sabe que Jacques Villeneuve vai correr na Stock Car na Corrida do Milhão, em Interlagos. Isto é, no dia 7 de agosto, quando a milionária prova começar o canadense estará disputando a sétima categoria diferente desde que saiu da F1 em 2006, ao ser chutado pela BMW Sauber na metade da temporada.

Desde então, o piloto já correu na Nascar (nas três principais divisões), na Nascar canadense, na Speedcar Series, na Le Mans Series (incluindo o vice-campeonato das 24 Horas de Le Mans), na Top Race V6, na V8 Supercars e agora na Stock Car.

Há duas coisas em comum que englobam todas essas categorias. A primeira é que tirando Le Mans – onde conseguiu o melhor resultado – todos são campeonatos de turismo. A segunda é que ele jamais se fixou em qualquer uma delas. O recorde de permanência foi na Truck Series, onde fez sete corridas em 2007.

Sabe o que essas estatísticas significam? Nada. De qualquer forma, é possível tentarmos achar alguma explicação para o ciganismo do canadense. Apesar de ter 40 anos, Villeneuve entrou numa espiral decadente a partir de 2002, quando percebeu que o carro da BAR era ruim. O piloto ainda ficou na F1 até 2006 – se arrastando por Renault e BMW Sauber –, quando, posteriormente, decidiu peregrinar pelo mundo todo. Assim, acredito que ele tenha se arrependido de sair da F1 no momento em que a equipe inglesa estava na pior.

A BAR, para quem não se lembra, foi criada em 1999 em uma parceria entre Craig Pollock (empresário de Villeneuve), Adrian Reynard e Rick Gorne. No primeiro ano, o carro era ruim e nem Villa nem Ricardo Zonta pontuaram. Depois o canadense conseguiu dois sétimos lugares na tabela de pontos ao final do ano, com direito a dois pódios, mas amargou carros ruins nas duas últimas temporadas, quando foi chutado e substituído por Takuma Sato em uma equipe que não tinha mais Pollock nem Reynard, nem Gorne e já se chamava BAR Honda.

Carro de Jacques Villeneuve na Stock Car
Só não gostei dessa parte branca. Como diria o filósofo Airton do BBB, 'anda de sunga branca e fica reclamando'. P.S.: essa foi a pior legenda da história do blog

De qualquer jeito, a passagem de Villeneuve pelo time não foi um desastre total. Em todos os anos ele superou o companheiro de equipe com facilidade. O problema é que além de o equipamento em si não ajudar, o time tinha como rivais a Ferrari no auge da era Schumacher, a BMW Williams e a McLaren, dispostas a acabar com o domínio italiano. Nesse cenário, ao longo dos anos, Villeneuve se desmotivou.

Ele até tentou fazer um retorno pela Sauber em 2005, mas acabou sendo dispensado pela equipe na temporada seguinte, quando o time já era administrado pela BMW. A partir daí, o canadense tentou voltar à F1 em umas 415 mil oportunidades, mas não conseguiu. Enquanto isso foi correr por aí, para passar o tempo.

Nos anos seguintes, faltou motivação para dar prosseguimento à carreira longe da F1. Enquanto o piloto via seus contemporâneos permanecerem na categoria com relativo sucesso, o canadense tinha apenas resultados razoáveis por onde quer que passasse. Claro que ele olhava a F1 e pensava ‘eu poderia estar correndo lá até hoje e com bons resultados’. Por outro lado, participava de provas na Ásia, na Argentina e agora no Brasil para se manter na ativa, além de faturar algum.

O Villeneuve do auge da F1, que competiu até 2001, não existe mais. Hoje, o piloto que vai correr na Stock Car é um esportista decadente, mas que faz parte da história do automobilismo mundial tanto pelas conquistas quanto pela história. É justamente por esse cenário pitoresco da carreira do canadense que a Stock Car acertou em trazê-lo para correr uma etapa no Brasil. Entretanto, obviamente, ele não tem a menor perspectiva de conseguir um bom resultado.

Apesar disso, vai ser divertido assistir ao seu desempenho. Na última corrida em que disputou, na Nationwide, ele brigou pela vitória a prova toda, mas acabou queimando uma relargada quando estava liderando, se recuperou, causou um acidente no meio da prorrogação envolvendo vários carros e finalizou em terceiro. Sensacional. Na Stock, ele não deve brigar pela liderança, mas o esperado é que ele repita o restante da confusão.

Embora tenha sido legal contabilizar o fracasso do Villeneuve pós-F1, o motivo desse post era só para comentar o esquema de pintura que ele vai utilizar em Interlagos. Eu achei sensacional o carro vermelho, embora o layout seja bastante simples. Eu só não entendi uma coisa. Como o pé daquele ‘r’ do ‘Power’ vai ser pintado na roda do carro?

P.S.: alguém sabe no que Villeneuve competia antes de chegar na F1? Ok, essa foi fácil. Na Indy. E antes? Essa foi um pouco mais difícil. Na F-Atlantic. Tá, e antes? Provavelmente você tenha chutado automobilismo americano ou canadense, talvez até F3 Inglesa, mas a carreira de Jacques Villeneuve começou na F3 Italiana e, posteriormente, na F3 Japonesa. Na Itália, ele perdeu para nomes importantes como Roberto Colciago e Giambattista Busi, dos quais eu nunca tinha ouvido falar, e no Japão, mesmo correndo com o poderoso carro da TOM’S, ele foi vencido pelo inglês Anthony Reid. Ou seja, não deixa de ser surpreendente ele ser um dos poucos pilotos a ter vencido o campeonato da F1 e da Indy.