Fazer parte de uma academia de jovens pilotos de alguma equipe praticamente se tornou um requisito para se chegar à F1. Por isso, anúncios como o da escalação da Academia da Ferrari para 2022 são sempre cercados de expectativas. Afinal, podemos estar diante de quem um dia estará na principal categorias do automobilismo mundial.
Mas assinar com a academia de um time da F1 não é certeza de sucesso. Aliás, o maior desafio da Academia da Ferrari em 2022 será reconstruir sua credibilidade perante os jovens pilotos.
Em 2020, a iniciativa teve cinco representantes no grid da F2 (Mick Schumacher, Callum Ilott, Robert Shwartzman, Marcus Armstrong e Giuliano Alesi), mas somente o alemão, muito por causa do sobrenome e dos patrocínios que obteve como consequência, conseguiu ser promovido.
Ilott fechou com uma das piores equipes da Indy para 2022, Shwartzman ainda não tem onde correr no próximo ano e os outros dois já deixaram a Academia da Ferrari.
Ou seja, com um aproveitamento de apenas 20%, a Academia de Ferrari está deixando a desejar no apoio na hora de dar o último passo da carreira. Já não basta mais só chegar à F2 e terminar em segundo (como fizeram Ilott e Shwartzman). É preciso ser o primeiro – melhor ainda se tiver um sobrenome famoso.
Situação diferente da época em que a Ferrari podia indicar um dos titulares da Sauber/Alfa Romeu, que permitiu as chegadas de Leclerc e de Antonio Giovinazzi à F1.
Veja o que esperar dos pilotos da Academia da Ferrari 2022
Mick Schumacher: apesar de estar indo para seu segundo ano como titular da Haas na F1, a Ferrari considera que o jovem piloto alemão integra sua Academia. Neste ano, além de guiar para a equipe americana, ele será reserva da Ferrari e terá a oportunidade de assumir um dos equipamentos caso Charles Leclerc ou Carlos Sainz não possam participar de alguma corrida.
Robert Shwartzman: atual vice-campeão da F2, o russo já anunciou que não vai voltar para a categoria de acesso em 2022. Seu programa para este ano ainda não foi definido, mas não será uma surpresa caso ele se divida entre o simulador da Ferrari e corridas de carro GT. Pode ser um nome forte para guiar o hipercarro da Ferrari no WEC e nas 24 Horas de Le Mans a partir de 2023.

Arthur Leclerc: não dá para dizer que o irmão mais novo de Charles terá um ano de “ou vai ou racha” na F3, uma vez que a Academia da Ferrari já se mostrou bastante paciente com seus pupilos. Ainda assim, o monegasco está devendo.
Ele vai para seu segundo ano na F3 em 2022, novamente pela Prema, e tentará apagar a impressão ruim deixada na última temporada, quando terminou somente em décimo na tabela de pontos e sumia nas classificações, a ponto de nem sequer ser beneficiado pela inversão dos 12 primeiros para a primeira corrida sprint de cada fim de semana. Também não pegou bem ter sido derrotado por Gianluca Petecof, na F-Regional Europeia, de 2020, quando ele quem tinha a prioridade dentro da Prema.
Oliver Bearman: Leclerc terá um páreo duríssimo na F3 em 2022 com a chegada deste britânico à Academia da Ferrari. No ano passado, Bearman fez história e se tornou o primeiro piloto da história a vencer a F4 Italiana e a F4 Alemã no mesmo ano. É um feito impressionante, claro, mas que ficou um pouco menos complicado a partir do momento em que o campeonato germânico mal conseguiu reunir dez competidores por etapa.
Por isso, 2022 será o ano para ver se Bearman é realmente um fenômeno do automobilismo, com potencial para um dia chegar à F1. O lado bom para ele é poder contar com o equipamento da Prema, que levou um de seus pilotos ao título da atual F3 desde que a categoria foi criada. O ruim é que seus companheiros na esquadra italiana (Leclerc e provavelmente o americano Jak Crawford) já acumulam um ano de experiência no campeonato, enquanto o britânico está dando um salto considerável vindo da F4.

Dino Beganovic: Assim como Leclerc, o sueco está devendo desde que chegou à Academia da Ferrari e começa 2022 pressionado para obter bons resultados. Em 2021, no seu primeiro ano na F-Regional by Alpine, mesmo competindo pela Prema, ficou somente na 13ª colocação na classificação final, com um único pódio conquistado. Na verdade, ficou mais conhecido por ter se envolvido em um acidente com um companheiro de equipe, na etapa de Monza, enquanto liderava.
Maya Weug: a primeira vencedora do programa Girls on Track retorna à F4 Italiana após um ano de altos e baixos. Na metade da temporada passada, parecia que ela seria capaz de pontuar com frequência, mas acabou se envolvendo em uma série de enroscos quando estava próxima ao top-10, muitos sem ter culpa. Mas nas últimas etapas passou longe da zona de pontuação. Em 2022, aposta na experiência para estar na zona de pontos.

James Wharton: o australiano foi o vencedor da seletiva da Academia da Ferrari, realizada no fim de 2020, mas acabou ficando no kartismo por mais uma temporada. No ano passado, ele nunca teve o melhor equipamento à disposição, mas de uma maneira geral seus resultados deixaram a desejar: obteve somente dois top-10 ao longo de toda a temporada, com o melhor resultado sendo um quinto posto no Mundial, mas obtido na divisão KZ2 (equivalente à shifter no Brasil), não na OK, onde estavam os principais nomes da modalidade.
Rafael Câmara: Após um bom ano no kartismo, no qual acumulou três títulos e o vice-campeonato no Europeu, o brasileiro assinou com a Academia da Ferrari e vai disputar, pela Prema, a F4 Italiana e algumas etapas da F4 Alemã em 2022.
O timing parece estar ao lado de Câmara. Ele tem tudo para derrotar Wharton e Weug neste primeiro ano na F4 e se firmar como um dos principais nomes da Academia da Ferrari de sua geração, garantindo, assim, prioridade na hora de ter o melhor equipamento à disposição ao longo da carreira.
Mas não basta viver de expectativas. Câmara também precisará mostrar na pista do que é capaz. Nos treinos de pós-temporada que fez de F4 no fim de 2021, foi bem: esteve entre os primeiros colocados em Misano.

Laura Camps: segunda vencedora do programa Girls on Track, a espanhola vai precisar esperar um pouco para fazer sua estreia nos monopostos. Passará mais um ano no kartismo, além de participar mais tarde de alguns testes nos carros de fórmula. A notícia não é tão boa, porque Weug, a primeira ganhadora da seletiva, teve apoio para subir para a F4 desde o começo, mas não deixa de ser prudente, uma vez que Camps nem sequer participou dos testes de pós-temporada da categoria (o anúncio da seletiva aconteceu só no fim de dezembro), o que já a deixaria em desvantagem.
Em relação ao ano passado, deixaram o programa Marcus Armstrong (que ainda não anunciou onde vai correr em 2022, mas é especulado na Hitech na F2) e Callum Ilott que “tirou um ano sábatico” da Academia enquanto tenta fazer carreira na Indy.