A temporada 2021 da F2 foi marcada por uma mudança profunda no formato da disputa. No lugar de rodadas duplas, cada etapa passou a ter três baterias, sendo que em duas delas a regra do grid invertido era aplicada. Assim, a cada etapa, havia mais pontos em jogo nas provas sprint (34) que na feature (31, contando com os quatro dados ao pole-position).
Além disso, se antes a corrida longa acontecia aos sábados, geralmente após a classificação da F1, dessa vez ela passou a acontecer no domingo. Os sábados foram destinados às duas baterias mais curtas.
A inversão de posições costuma ser polêmica. Afinal, pilotos que não são tão competitivos costumam ser beneficiados. Na F2, por exemplo, o décimo colocado na definição do grid de largada era alçado à pole da primeira prova do sábado, aumentando as chances de conseguir somar muitos pontos.
Mas e se o grid invertido não existisse? Será que o resultado da temporada 2021 da F2 teria sido diferente? Para descobrir as respostas para essas perguntas, calculei como teria sido o campeonato (confira mais abaixo) levando em conta somente os pontos distribuídos nas provas longas.
O campeão da F2 2021 de domingo
Nessa matemática, Oscar Piastri não só teria sido campeão, como seu domínio teria sido ainda maior. Afinal, o australiano terminou a F2 2021 com cinco poles e quatro vitórias (nas provas longas) consecutivas, então nenhuma surpresa que ele tenha ficado com a taça.
Levando em conta só as corridas feature, o novato da Prema teria atingido 159,5 pontos e possivelmente teria sido o campeão com duas rodadas de antecipação, tamanho seu domínio.
Já em relação ao vice-campeonato teríamos uma mudança, com Guanyu Zhou superando Robert Shwartzman. Em etapas como Silverstone e Jeddah, o novo contratado da Alfa Romeo cometeu erros nas corridas do sábado, mas conseguiu se recuperar no domingo. O russo, por outro lado, costumava ter bom desempenho nas provas com grid invertido (venceu no Azerbaijão e no Reino Unido), mas deixava a desejar na corrida longa.
Aliás, quase que Theo Pourchaire roubaria o terceiro posto de Shwartzman. O piloto da ART acabou prejudicado por ter sido o pivô do forte acidente na largada na Arábia Saudita – que deixou Enzo Fittipaldi lesionado -, onde não pontuou. Ficou somente três pontos atrás do adversário da Prema. Ou seja, tinha condições de ter ido ainda melhor.
Ainda assim, Pourchaire ganhou uma posição em relação ao resultado real da F2 2021. Teria superado o britânico Dan Ticktum, outro que teve suas vitórias em corridas com o grid invertido.
O desempenho de Felipe Drugovich na F1 2021
Felipe Drugovich seria o principal beneficiado entre os que fecharam o ano no grupo dos dez primeiros, pulando da oitava para a sexta colocação na nova classificação.
Nas primeiras etapas da temporada, o brasileiro costumava dizer que a equipe UNI Virtuosi começava um pouco perdida em termos de ritmo de corrida, mas conseguia se acertar no domingo. Foi assim em Mônaco e em Baku. Aliás, dos quatro pódios de Drugovich na temporada 2021, três vieram nas provas feature. Ou seja, excluir as baterias com o grid invertido pouco o afetou.
A sexta colocação nessa matemática à parte mostra que o brasileiro teve uma temporada melhor que pareceu (afinal, andou bem quando não precisou contar com benefícios como o grid invertido) e estava o tempo todo brigando na parte de cima do top-10. Só não andou forte o suficiente para lutar por vitórias e pelo título.
Se Drugovich subiu nesta nova classificação, Juri Vips foi no sentido oposto, com o piloto do Red Bull Junior Team só tendo obtido um único top-5 ao longo aos domingos: seu triunfo no Azerbaijão. Fora isso, dependia do grid invertido para compensar que não se classificava bem – teve um horroroso 9,9 de posição média de largada, muito pouco para quem buscava ser campeão.
Outro que pegou o elevador para baixo foi Jehan Daruvala, ultrapassado não só por Drugovich como também por Liam Lawson, seu companheiro de Red Bull Junior Team. O indiano obteve duas vitórias neste ano, sempre aos sábados, e foi ao pódio uma única vez ao domingo.
Richard Verschoor, que ficou sem vaga na MP para as duas últimas etapas do ano, mostrou ter sido um dos destaques da F2 2021 e teria completado o campeonato em décimo.
Outro que ficou a pé nas últimas corridas do ano, Lirim Zendeli teria sido o 13º colocado na tabela de pontos, cortesia de seu sétimo lugar em Monza, quatro colocações melhor que o 17º na classificação real. Já Christian Lundgaard, que vai para a Indy em 2022, teria fechado o campeonato somente em 14º, acumulando somente oito pontos, muito, mas muito pouco mesmo para um competidor que tinha iniciado a temporada como um dos grandes favoritos à taça.
Para 2022, a F2 já anunciou mudanças nas regras, para diminuir o impacto do grid invertido. Será somente uma prova sprint por fim de semana e com menos pontos distribuídos: o top-10 receberá 10-9-8-7-6-5-4-3-2-1, além de um ponto para o autor da melhor volta. Assim, quem anda bem na prova longa voltará a ser priorizado.
Abaixo, você pode conferir como ficaria a F2 2021 nessa classificação hipotética, levando como base os resultados obtidos somente nas corridas longas do ano (clique na imagem para ampliar), se necessário:

A Virtuosi certamente não viu dessa forma já que não renovou com o Drugovich
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Nas categorias de base, via de regra, todos os pilotos pagam para correr. Então é normal que os pilotos queiram levar o dinheiro para onde têm mais chances de ser competitivos. Não é tanto a equipe que escolhe renovar ou não. Claro que algumas vezes os times fecham a porta. Mas 2021 deixou claro que a parceria Drugovich-UNI Virtuosi não deu certo, então nem fazia sentido tentarem ficar junto por mais um ano.
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