Por uma incomum combinação de calendários, o campeonato mais importante deste fim de semana foi a F4 da Dinamarca. Criada em 2017, essa categoria até agora mal teve destaque fora da própria fronteira. Mas dessa vez fãs do automobilismo do mundo todo voltaram suas atenção para o circuito de Jyllandsenring para acompanhar a estreia de Juju Noda no automobilismo europeu.

Mas quem é essa Juju Noda e por que há tanto interesse no desempenho dela?

Para quem não conhece, Noda é uma pilota japonesa de 14 anos de idade, considerada um fenômeno do automobilismo mundial. Entre seus feitos estão ter testado um carro de F4 pela primeira quando tinha nove anos de idade, ter batido recordes de velocidade no circuito de Okayama, também no Japão, aos 10, e ter começado a andar de F3 aos 11. Desde então, ela conquistou, em seu país, títulos em categorias regionais e amadores.

Para colocar em perspectiva como ela é precoce, na última semana surgiu a notícia que Emerson Fittipaldi Jr. fez seu primeiro teste em um carro de F4 nos EUA. Ele tem 13 anos e ainda não tem idade para disputar um campeonato oficial.

O debate sobre Juju Noda

Mas, se de um lado há fãs aficionados apostando que Juju Noda será a próxima mulher a chegar à F1, do outro existe quem questione os recordes dela. Afinal, eles aconteceram em um país distante geograficamente dos grandes centros e onde o idioma também funciona como barreira para o ocidente. Fora que, por terem sido obtidos em campeonato regionais pequenos, não há muitas informações disponíveis sobre esses certames na internet.

Assim, era difícil verificar de forma independente se Noda era tão boa quanto os recordes divulgados ou se havia alguma manipulação para inflar seu desempenho numa busca de atrair investidores e patrocinadores.

Como ela já anda de F4 desde que tinha nove anos, seu estafe decidiu que em 2020 , com 14, a pilota estava preparada para voos maiores e anunciou que ela iria correr na F4 da Dinamarca. A escolha é bastante incomum, mas não é por acaso.

O campeonato de F4 da Dinamarca não segue as regras da FIA. E uma das diferenças é que ele permite a presença de competidores de 14 anos. Nos oficiais, a idade mínima costuma ser 15. Aí, para adiantar logo a adaptação à Europa, a equipe Noda decidiu tomar parte desse certame.

Apesar de a F4 da Dinamarca não seguir o regulamento oficial da FIA, ele é um campeonato chancelado pela federação local, e é muito mais fácil encontrar informações confiáveis sobre o que está acontecendo nele. Por isso, a etapa de abertura em 2020, neste fim de semana, era a primeira chance de conferir se Juju Noda é tão talentosa quanto vinha sendo divulgado ou se é mais um caso – comum no esporte a motor – de maquiar o desempenho de alguém artificialmente.

Para a alegria dos fãs da pilota, o que ela mostrou em Jyllandsenring foi muito promissor.

As primeiras corridas de Juju Noda na F4

Noda marcou a pole-position para a etapa, depois que um de seus adversários, o dinamarquês Conrad Laursen, ser punido por ter ignorado as bandeiras amarelas ao marcar seu melhor tempo na classificação.

Na primeira prova da rodada tripla, a pilota japonesa ganhou de ponta a ponta, tendo dado apenas um único susto, ao dar uma leve escapada enquanto liderava. O suficiente para fazer Laursen se aproximar, mas nada que colocasse seu triunfo em risco.

Na segunda bateria, quando os oito primeiros colocados da prova anterior largavam em posições invertidas, ela partiu em oitavo e recebeu a bandeira quadriculada em terceiro, tendo, inclusive, ultrapassado Laursen. A vitória ficou com Sebastian Ogaard, que vai correr também na F4 Italiana em 2020 e foi um dos ponteiros nos treinos coletivos no começo do mês.

Só que aí teve um problema. A equipe Noda, pela qual ela compete, é bastante recente e tem pouca experiência no automobilismo dinamarquês. É um time que veio do Japão, contratou alguns espanhóis especializados em campeonatos de base.

Na segunda corrida, o jogo de pneus colocado no carro de Juju Noda não poderia ter sido usado, de acordo com as regras, e ela foi desclassificada, perdendo o pódio que havia obtido. Da mesma forma, como o grid para a terceira bateria é formado a partir dos resultados das duas primeiras, a punição a fez deixar a pole e largar somente em 12ª. Ainda assim,  conseguiu se recuperar e fechar a prova na quarta colocação, atrás de Laursen, Ogaard e de Mads Hoe, um piloto bastante veterano da F4 de lá.

Ela ocupa agora a quarta colocação na tabela de pontos, com 37, 21 a menos que Laursen, o líder.

Para encerrar esse post, tem alguns poréns sobre a F4 da Dinamarca, que precisam ser levados em conta. Um deles é que é um campeonato forte – Frederik Vesti, atual campeão da F-Regional, começou a carreira por lá, assim como Christian Rasmussen, um dos favoritos na USF2000 deste ano -, mas que não está no mesmo nível dos disputados no Reino Unido, Alemanha, França, Espanha e Itália.

E você lembra que eu escrevi lá em cima que esse não é um campeonato FIA? O motivo é que ele tem uma subclasse, chamada F5, onde são usados carros de uma antiga F-Ford, mas com asas dianteira e traseira.

Em algumas pistas, esses F5 se adaptam até melhor que os F4, mas no geral os carros mais recentes têm uma vantagem muito grande de desempenho. É como se os F4 equivalessem a Mercedes, Red Bull e Ferrari, enquanto os F5 estão para as demais esquadras da F1.

E dos 18 pilotos da primeira etapa, seis corriam de F4 e 12 eram da F5, o que ajudou bastante as corridas de recuperação feitas por Juju Noda.

Assim, é melhor esperarmos a próxima etapa da F4 da Dinamarca, marcada só para setembro, para tirarmos maiores conclusões sobre o desempenho dela. Mas que foi uma primeira impressão muito boa em Jyllandsenring, isso foi.

Você pode clicar aqui para ver os resultados completos da F4 da Dinamarca no fim de semana, assim como os das principais categorias do automobilismo mundial.

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A estreia de Juju Noda, de 14 anos, na F4 na Europa foi cercada de expectativa – fotos do post: àlex garcia/noda racing

 

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