Luca di Montezemolo foi o responsável pelos anos mais vitoriosos da Ferrari na F1. Foi ele, como chefe de equipe, que levou Niki Lauda para a escuderia italiana na década de 1970. E foi ele, como presidente do grupo, que montou a fantástica esquadra formada por Michael Schumacher, Ross Brawn e Jean Todt, pentacampeã no começo dos anos 2000.
No fim de 2014, Montezemolo soube que seria demitido da presidência para dar lugar a Sergio Marchionne. Mas ele ainda teve tempo de, como gosta de dizer, dar um último presente para a escuderia de Maranello – conseguiu tirar Sebastian Vettel, então tetracampeão mundial, da Red Bull para o lugar de Fernando Alonso.
A ideia era fazer o raio cair duas vezes no mesmo lugar, uma vez que Vettel foi, ao longo de sua carreira, inúmeras vezes comparado a Schumacher. Os dois são da Alemanha, começaram a correr no mesmo kartódromo – de Kerpen – e conseguiram se destacar logo em suas primeiras provas na F1, mesmo quando andavam por equipes medianas.
Os problemas de Vettel na Ferrari
Mas os problemas de Vettel começaram logo depois da sua contratação. Se foi Montezemolo quem o convenceu a sair da Red Bull, na Ferrari o alemão encontrou um Marchionne muito mais linha dura, que gostava de mostrar que era ele quem decidia.
Ao mesmo tempo, o equipamento não era muito competitivo. Foram só três vitórias ao longo das primeiras 40 corridas, em 2016 e 2017.
Muito diferente da Mercedes, que investiu pesado para se tornar a equipe dominante da era híbrida da F1 – de 2014 para cá.
Alguém pode dizer que Schumacher demorou para transformar a Ferrari em uma equipe vencedora. Foram quatro anos de derrotas, de 1996 a 1999, antes de o título vir pela primeira vez em 2000.
Mas Schumacher contou com a estabilidade de um time encabeçado por Todt e Brawn. Vettel enfrentou mudanças constantes no comando da Ferrari.
Quando foi contratado, o chefe da equipe era Marco Mattiacci, italiano que tinha vindo da divisão de vendas da marca, mas com pouca – ou nenhuma – experiência na pista.
Mattiacci foi demitido no fim de 2014 – quando Vettel já tinha assinado contrato, mas ainda não tinha começado a trabalhar na Ferrari – e substituído por Maurizio Arrivabene, cuja origem era Philip Morris e que era considerado homem de confiança de Marchionne.
Arrivabene durou até o começo de 2019. Depois, Mattia Binotto, antigo engenheiro da própria Ferrari, foi promovido para o comando do time.
Na parte técnica, Vettel enfrentou mais mudanças. James Allison era o diretor-técnico até 2016, quando decidiu deixar a Itália e voltar para o Reino Unido após a morte de sua melhor.
E houve ainda a morte prematura de Marchionne, em julho de 2018.
Surgimento de Charles Leclerc na Ferrari
Em seus últimos meses no comando, Marchionne iniciou a reformulação na equipe. Entre as novidades, estava a contratação de Charles Leclerc, então na Alfa Romeo e cria da própria Academia da Ferrari, para a vaga de Kimi Raikkonen.
Como o finlandês tinha conquistado apenas uma única vitória em sua segunda passagem por Maranello, o dirigente queria um piloto que fosse capaz de colocar um pouco de pressão em Vettel e pudesse fazer a equipe andar mais próxima da Mercedes.
Só que Vettel nunca foi um piloto que soube lidar com a pressão. Em seus primeiros anos de Red Bull, houve uma série de conflitos com Mark Webber, seu companheiro de equipe, como a batida no GP da Turquia de 2010, até se firmar como o líder e quatro vezes campeão mundial.
E, quatro anos mais tarde, terminou atrás de Daniel Ricciardo, então novato na escuderia rubro-taurina, na classificação.
Na Ferrari, não foi diferente. Em 2018, Vettel era o líder do campeonato, no GP da Alemanha, quando bateu sozinho na primeira posição ao começar a chover. A pressão para recuperar o terreno perdido pelo acidente fez com que novos erros fossem cometidos pelo piloto nas etapas seguintes, no Japão, nos EUA, na Itália, por exemplo.
Depois, com a chegada de Leclerc, o clima azedou de vez. Na pista, o monegasco se mostrou competitivo desde a estreia. Mais do que isso. Negou-se a fazer o papel de número 2 quando era solicitado. Vettel, quem sempre gostou de ter a equipe voltada para ele, esbravejou, e a própria Ferrari pareceu ouvir. Ou fingia que ouvia.
Mas aí já era tarde demais, e o bastão já tinha sido passado. No fim de 2019, a escuderia italiana anunciou a renovação do contrato de Leclerc por cinco anos – prazo bastante incomum na esporte a motor. Já estava definido que ele, Charlinho, como é chamado aqui no Brasil, é que é o futuro de Maranello.
E Vettel? Ele também teve azar. Talvez se o mundo não tivesse sido dominado pela pandemia do novo coronavírus, quem sabe o alemão poderia ter sido mais competitivo nas primeiras corridas de 2020 e brigado por cláusulas melhores na renovação de contrato. Ou então o corte de custos não se tornasse a palavra de ordem no mundo pós-crise, e a Ferrari ter oferecido a ele um salário melhor.
Como “se” não existe, a primeira etapa da temporada 2020 da F1 ainda não foi nem disputada, mas Vettel já sabe que será sua última pela Ferrari. E se o título não vier no fim do ano, o alemão deixará a equipe distante dos resultados conquistados por Schumacher, a quem era comparado, e também dos de Alonso, quem ele substituiu na escuderia.
foto do topo: wikimedia commons

Há um fato importante na atual administração da Ferrari que não é muito comentado. Quando Schumacher foi campeão em 2000, a equipe encerrou seu enorme jejum com um piloto alemão, outro brasileiro, um diretor esportivo francês, um diretor técnico inglês, um projetista australiano e um técnico de motores italiano, mas que substituia um japonês.
Ou seja, a equipe contratava as melhores mentes da categoria, independente de onde elas vinham.
A administração Machione decidiu que o carro, italiano, também deveria ser construído por italianos.
Esse pensamento fez a equipe dispensar vários técnicos que, além de enfrequecerem a equipe, reforcaram os adversários. Vide Allisson e Aldo Costa, hoje campeonissimos pela Mercedes.
Pode ser uma atitude xenófoba, talvez racista, mas, com certeza, prepotente, mas que tem custado caro.
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A Itália e Alemanha são berços da motorização mundial…a Itália ainda conta com mais…os “stúdios de desing”…então eu acho é que: sobra mão de obra qualificada lá…o fato é saber ajustar tudo no quebra cabeça.
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