Conforme os participantes da temporada 2020 da Toyota Racing Series eram anunciados, Igor Fraga não aparecia entre os mais cotados ao título.

Muito se falava de Liam Lawson, que defenderia a taça conquistada em 2019, de Yuki Tsunoda, do Red Bull Junior Team, e um pouco de Caio Collet, da academia da Renault.

Mas Fraga não quis nem saber do favoritismo dos adversários. Venceu quatro corridas, subiu ao pódio em outras cinco oportunidades, largou quatro vezes da pole e superou Lawson por apenas seis pontos para se tornar o campeão da temporada 2020 da Toyota Racing Series.

Também se tornou o primeiro piloto a conquistar um título neste ano e o primeiro brasileiro a levantar a taça na Nova Zelândia.

Os “quases” de Igor Fraga

Assim, fica a pergunta: se Fraga foi o principal nome da Toyota Racing Series neste ano, por que ele não era considerado um dos favoritos antes de a temporada começar?

Parte da resposta é porque, até aqui em sua carreira nas pistas, o brasileiro era mais conhecido pelos “quases” que pelos títulos. Antes da taça na Nova Zelândia, seu único campeonato conquistado tinha sido o da divisão Academy, da extinta F3 Brasil, em 2017.

Naquele ano, o piloto corria pela tradicional equipe Prop Car, em uma situação similar à deste início de 2020: era um dos competidores mais experientes do certame, mas não figurava entre os mais cotados à taça.

Depois de seu primeiro título, Fraga sempre esteve entre os melhores pilotos por onde passou, mas os troféus teimavam em escapar. Foi vice-campeão da F4 Mexicana (andando pela mesma Prop Car), quarto colocado da USF2000 nos EUA e, no ano passado, fechou em terceiro lugar na novíssima F-Regional, em seu primeiro ano na Europa.

O erro que se fazia era, a partir desses resultados, considerar Fraga um bom piloto, mas não bom o suficiente para ser campeão. Só que os números, crus, não contavam a história toda do brasileiro.

Basta ver, por exemplo, que na F-Regional Fraga corria por uma equipe que há alguns anos não estava entre as principais da Europa: a DR by RP. Como a confirmação de que ele ia disputar a temporada completa aconteceu de última hora, a escuderia só recebeu o equipamento às vésperas da primeira corrida. Situação bem diferente da Prema, que proporcionou a pré-temporada completa a seus pilotos.

Mesmo assim, o brasileiro terminou o campeonato em terceiro, com quatro vitórias (número inferior apenas ao do campeão Frederik Vesti), e na frente de um dos pilotos da Prema na tabela.

Voltando um pouco mais no tempo, é sempre complicado falar da USF2000. Afinal, por lá, todos os campeões desde 2011 correram pela escuderia, a Cape. No ano em que Fraga esteve nos EUA, não foi diferente. O americano Kyle Kirkwood, da Cape, levantou a taça com sobras, ganhando 12 das 14 corridas disputadas. Já o brasileiro foi bem. Esteve na luta pelo vice até o fim, finalizando em quarto na tabela.

E sua campanha na F4 Mexicana começou complicada, pois corria por um time estreante por lá, e ainda foi marcada pela polêmica de o campeão do certame ter sido flagrado no exame antidoping, mas mesmo assim não ter sido proibido de correr – o que fez uma das equipes a abandonar o campeonato.

Fora que Fraga não participou de todas as etapas da F4, já que uma delas aconteceu no mesmo dia do mundial do game F1, onde ele também competia, e o brasileiro optou por priorizar as pistas virtuais daquela vez.

Como se pode ver, Fraga nunca esteve na situação ideal para ser campeão, mas seus bons resultados eram prova de superação e de seu talento, que passavam batidos ao se analisar somente os números. Na Nova Zelândia, a situação foi diferente, e o brasileiro correu pela equipe M2, a melhor do certame e que acaba de conquistar seu sexto título nos últimos oito anos.

Ou seja, na hora do igual para igual, Fraga mostrou, sim, que não há nada de “quase” e que está, sim, entre os melhores.

Igor Fraga nas pistas virtuais

Em tempo, como falei da participação no game da F1, é bom dizer que o brasileiro é um dos melhores pilotos dos simuladores/jogos de corrida, tendo sido campeão de alguns dos principais campeonatos do mundo nos últimos anos, incluindo o da McLaren, que valia uma vaga para comandar o simulador de F1 da equipe.

Foi justamente por aliar os títulos no mundo virtual com bons resultados nas pistas reais que o brasileiro conseguiu o patrocínio do game Gran Turismo, um dos mais conhecidos de corridas de carro.

Com o investimento da fabricante do jogo, ele foi capaz de dar continuidade à carreira na Europa, em 2019, e de participar da Toyota Racing Series por uma das melhores equipes da Nova Zelândia, o que foi fundamental para seu título. Tomara que essa combinação abra mais portas para ele daqui para frente.

Você pode clicar aqui para ver os resultados completos da última rodada da Toyota Racing Series, assim como os das principais categorias do automobilismo mundial no fim de semana.

foto de Igor Fraga
Foi o patrocínio do game Gran Turismo que mudou a carreira de Igor Fraga nas pistas – fotos do post: aci csai/divulgação