Teve um pouco de McLaren no anúncio oficial da equipe de fábrica da Mercedes, que estreia na Formula E na temporada 2019-2020.
Primeiro, os dois titulares, Stoffel Vandoorne e Nyck de Vries, foram integrantes do programa de jovens pilotos da McLaren e tiveram boa parte de suas carreiras nos campeonatos de base paga pelo time britânico.
E, segundo, o próprio carro da Mercedes tem algumas semelhanças com o da época em que a montadora alemã fornecia motores para a McLaren na F1, entre o fim da década de 1990 e meados dos anos 2010. Em ambos, a parte de baixo é um pouco mais escura que a parte de cima, e outra cor fica na divisa entre ambas. Na McLaren era um tom de vermelho – chamado de dayglo – enquanto na Formula E é um azul.
E, curiosamente, a apresentação da Mercedes na Formula E aconteceu num momento em que a McLaren está ativa no mercado de pilotos. Não da F1, onde a escuderia já renovou os contratos de Carlos Sainz e Lando Norris para 2020. Mas no da Indy.
Quem vai correr na McLaren?
Para o ano que vem, a esquadra britânica fez uma parceria com o time de Sam Schmidt e vai disputar, com dois carros, a temporada completa da categoria norte-americana.
Em um deles estará James Hinchcliffe, veterano canadense que já tinha contrato com a Schmidt. O problema é que ele não é uma unanimidade. Como conquistou um único pódio nesta temporada e só venceu três vezes desde que chegou ao time, em 2015, começou a ter seu desempenho contestado.
No outro equipamento, a disputa envolve Marcus Ericsson, que pode ter seu contrato renovado, Conor Daly, substituto do sueco na etapa de Portland, e até mesmo Colton Herta, principal piloto da Indy que ainda não tem vínculo assinado para 2020.
Com tantas indefinições, já pensou se a McLaren pudesse contar com uma dupla como Vandoorne e De Vries nos EUA? Certamente estaria entre as mais fortes da categoria, apesar da inexperiência nos ovais.
Mas por que esses dois pilotos assinaram com a Mercedes em vez de serem aproveitados pela própria equipe britânica?
De Vries e Vandoorne na Formula E
São dois os principais motivos. O primeiro é que os programas de jovens pilotos das equipes da F1 ignoram o que acontece fora da principal categoria do automobilismo mundial.
É raríssimo alguma equipe oferecer a seus pupilos uma vaga em outros campeonatos em que estão presentes, como os de carro GT. Um bom exemplo é Raffaele Marciello, que integrou a Academia da Ferrari praticamente durante toda sua carreira na base, não conseguiu chegar à F1 e se tornou um dos melhores pilotos do mundo de GT, mas pela Mercedes, que compete justamente contra a Ferrari.
É um desperdício enorme de dinheiro e de talento por parte das montadoras.
Mas no caso da McLaren, o timing não ajudaria a manter Vandoorne e De Vries para a estreia na Indy.
Foi só no segundo semestre deste ano que a equipe bateu o martelo e decidiu disputar a categoria americana em tempo integral a partir de 2020. E nesse momento os dois pupilos que foram para a Mercedes já tinham sido demitidos.
Vandoorne ficou sabendo em setembro do ano passado que não teria mais vaga na McLaren na F1 e seria substituído por Norris. E ele foi rápido para assinar com a HWA – percursora da Mercedes – e estrear na Formula E já no fim de 2018.
Meses depois, no começo de 2019, foi a vez de De Vries não ter seu contrato renovado pela McLaren, lembrando que desde a época do kartismo ele defendia as cores da equipe. O que pesou contra o holandês foi a ascensão de Norris, que se tornou um dos protegidos do CEO do time, Zak Brown.
Desde então, além de competir na F2 pela ART e em algumas etapas do WEC, De Vries tem pilotado o simulador de F1 da Mercedes. Acabou convidado para testar o carro da Formula E, foi bem e garantiu a titularidade para a nova temporada.
Assim, fica a expectativa de que no futuro a McLaren possa usar os pilotos de seu programa de talentos também fora da F1, em vez de revelá-los para suas adversárias.
Você pode clicar aqui para ver como ficou o grid da Formula E para a temporada 2019-2020.
foto do topo: daimler/divulgação
