Talvez esta seja uma análise prematura, mas o GP da Itália da temporada 2019 da F1 teve toda cara de passagem de bastão na Ferrari, de Sebastian Vettel para Charles Leclerc.
Não foi só por causa do erro do piloto alemão (mais um!), que rodou enquanto estava na quarta colocação. Nem apenas por causa da vitória praticamente de ponta a ponta do representante de Mônaco – seu segundo triunfo consecutivo na categoria, enquanto Vettel amarga um jejum de mais de um ano sem subir no degrau mais alto do pódio. E também não foi devido a Leclerc ter se tornado o primeiro piloto da Ferrari a conquistar o GP da Itália desde 2010.
O que marcou a passagem de bastão na escuderia de Maranello aconteceu no sábado, na disputa do treino que definiu o grid de largada.
A tática da Ferrari no GP da Itália da F1 2019
Para quem não lembra, vai aqui um resumo. Pela tática combinada pela Ferrari para o Q3, os pilotos teriam duas tentativas de marcar a volta rápida. Na primeira, Vettel puxaria a fila e Leclerc andaria logo atrás, se aproveitando do vácuo do alemão.
Por Monza ser uma pista em que os pilotos ficam praticamente o tempo todo de pé-embaixo, o vácuo é muito importante. Ao longo do GP da Itália, algumas equipes estimaram que era possível ganhar até 0s4 ao seguir de pertinho o carro da frente.
Na primeira tomada de tempo, tudo saiu conforme o combinado. A tática deu tão certo que Leclerc marcou a volta mais rápida, se colocando na pole provisória, superando as Mercedes de Lewis Hamilton e de Valtteri Bottas.
Pelo acerto, depois que os carros voltassem aos boxes para colocar pneus novos, seria o piloto de Mônaco que puxaria a fila, e Vettel, quem se aproveitaria do vácuo. Mas Leclerc não quis nem saber. Ficou atrás do alemão e não tentou a ultrapassagem, mesmo com as ordens da Ferrari.
Só já perto da linha de chegada para abrir a volta rápida é que o jovem piloto acatou a ordem e passou Vettel. Não adiantou nada. Como ninguém acelerou para valer no fim do treino – para não dar vácuo a um adversário – a classificação já tinha acabado.
Após a classificação, o tetracampeão estava irritado, dizendo que Leclerc tinha descumprido o acordo.
Quem sabe o que poderia ter acontecido caso o combinado tivesse dado certo? Talvez fosse Vettel largando na pole. E no ar limpo e com o companheiro como escudeiro poderia ter sido o fim do jejum de vitórias do alemão. De repente até o início de uma reação daqui para o fim da temporada.
Mas nada disso importa. O curioso é ver Vettel reclamando de um companheiro não ter cumprido um combinado.
Logo o próprio alemão, que em seus anos de Red Bull colocou o outro piloto do time, Mark Webber, no bolso, em situações semelhantes. Um bom exemplo foi o GP da Malásia de 2013.
Naquela corrida, Webber liderava, enquanto Vettel vinha em segundo. Como as ordens de equipe eram proibidas naquela época, a Red Bull usou um código, ao dizer “Multi21” pelo rádio, indicando que era para as posições serem mantidas até a bandeirada e proibindo qualquer briga entre seus pilotos na pista.
O dia do Multi21 na F1
Vettel ignorou. Na 44ª das 56 voltas previstas, o alemão emparelhou com o companheiro de equipe na reta principal e completou a ultrapassagem. Irritado, Webber mostrou o dedo do meio para o germânico, que seguiu rumo à vitória. No pódio, ambos estavam de caras amarradas, e a relação entre eles azedou de vez a partir daí.
A permanência de Webber na F1 durou somente mais alguns meses depois do episódio doMulti 21. Em junho de 2013, ele anunciou que tinha assinado contrato com a Porsche, montadora que estrearia na principal divisão do WEC, o Mundial de Endurance, no ano seguinte.
E curiosamente a permanência de Vettel na Red Bull também não durou muito mais. No fim de 2014, em uma temporada na qual fora superado por Daniel Ricciardo, o germânico assinou com a Ferrari, colocando um ponto final na parte rubro-taurina de sua carreira.
Será que o desentendimento no treino no GP da Itália da F1 2019 pode levar a rupturas tão grandes como foi o Multi21?
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foto do topo: lukas raich/own work, CC BY-SA 4.0
