Dá para dizer que a primeira temporada da história da W Series, o controverso campeonato destinado apenas para mulheres, superou as expectativas.
Havia um temor de que seria um passeio de Jamie Chadwick. Afinal, a categoria tinha sido montada na medida para ela. Desde o anúncio oficial da criação da W Series, a britânica já aparecia em todo material de divulgação. Também era a única do grid que vinha correndo com frequência em monopostos, na F3 Inglesa, com um equipamento semelhante ao do certame feminino.
Chadwick foi a campeã neste domingo, mas não foi o passeio previsto. Ela foi a única competidora com dois triunfos na temporada (em Hockenheimring e em Misano), mas o certame viu outras quatro pilotas – sem contar a prova com grid invertido – subirem no degrau mais alto do pódio.
Além de ser a mais vitoriosa, a britânica também foi a melhor em classificações. Largou na pole em Hockenheimring, em Zolder e na decisão, neste fim de semana, em Brands Hatch. Mas outras três competidoras também partiram da posição de honra ao longo da campanha.
No fim, a taça veio com base na consistência. A campeã terminou todas as corridas – menos a decisiva, quando não precisava forçar o ritmo – no pódio. Foi o suficiente para terminar o ano com dez pontos de vantagem para a segunda colocada Beitske Visser, ganhadora em Zolder, mas que ficou fora do pódio em duas oportunidades.
E, no fim, também fica a questão sobre como teria sido a temporada caso Emma Kimilianen tivesse participado de todas as provas. A finlandesa sofreu um forte acidente na rodada de abertura, em Hockenheimring, e foi vetada pelos médicos das duas provas seguintes. Só voltou em Norisring, quando terminou na quinta colocação. Daí ganhou em Assen e foi segunda colocada em Brands Hatch. Ou seja, nessas três provas, em duas ficou na frente de Chadwick.
Pelo título, a britânica garantiu o prêmio de US$ 500 mil, que poderá ser usado para pagar por uma vaga em qualquer campeonato que ela deseje correr em 2020.
Onde Jamie Chadwick vai correr?
A tendência é Chadwick se mudar para a F3, pela Hitech, uma vez que a escuderia britânica é a responsável por toda a parte técnica da W Series.
Mas muita coisa pode acontecer até o ano que vem, ainda mais porque a Hitech vem se mostrando uma das melhores equipes da F3, onde dois de seus pilotos já ganharam corridas neste ano. Como deverá haver muitos interessados pelas vagas desse time, o preço delas deve subir, e Chadwick pode precisar de outros patrocinadores para completar o orçamento.
Além disso, pelas regras da W Series, as 12 primeiras da temporada recém-acabada vão ser convidadas para retornar ao certame em 2020, sem precisar passar pela seletiva no começo do ano. E a atual campeã já afirmou que pode aceitar voltar ao torneio feminino, caso ele passe a dar pontos na superlicença, o documento obrigatório para correr na F1. E a tendência é que a FIA confirme ainda neste ano a inclusão da W series entre os campeonatos que distribuem esses pontos.
O destino das pilotas da W Series 2019
Segunda colocada em 2019, Visser ganhou US$ 250 mil de prêmio. Neste ano, além da W Series, ela estreou em uma das etapas do GT Open e terminou no pódio em uma das corridas. Assim, por ter contrato com a BMW, não seria uma surpresa se ela seguisse carreira nos carros GT a partir de agora. Lembrando que a montadora alemã também tem vagas no DTM e na Formula E em aberto, e a holandesa corre por fora para ficar com alguma delas.
Alice Powell terminou com a terceira colocação. E, assim como Chadwick, foi ao pódio em todas as corridas que completou. Em ritmo de corrida, a britânica foi quem mais andou próxima da campeã, mas o problema foram abandonos em Norisring e em Misano, que a tiraram da luta pela taça.
É um absurdo pensar que Powell estava afastadas das pistas até o começo deste ano por falta de dinheiro. Pelo talento que mostrou ao longo da carreira – e também nesta temporada – teria vaga fácil no GT Inglês ou no BTCC (para citar só certames do próprio Reino Unido), e não seria uma surpresa se ela andar na frente neles.
A quarta posição foi de Marta García, uma das mais jovens do grid, mas também bastante talentosa, como mostrou em sua vitória em Norisring. Ela já afirmou que planeja usar a W Series para retomar sua carreira. Então pode ser que até o fim do ano a pilota espanhola apareça na Euroformula Open ou na F4 de seu país.
Kimilainen, mesmo perdendo metade da temporada, foi a quinta. Ela é uma das pilotas que esperamos ver na W Series em 2020, onde poderá lutar pelo título longe das lesões.
Talvez a maior surpresa da temporada 2019 tenha sido Fabienne Wohlwend, a sexta colocada. Ela não chamou a atenção no único ano que fez de F4, em 2016, quando terminou sem pontuar, e estava esquecida no Ferrari Challenge, um campeonato monomarca Pro-Am da Europa. Mas na W Series, a representante de Liechtenstein andou entre as primeiras colocadas com frequência e ainda largou na pole em Misano.
Wohlwend já começou a colher os frutos do bom desempenho. Tanto que foi chamada para estrear no VLN, o campeonato alemão de corridas de longa duração.
Sétima na classificação final, Miki Koyama tinha um ótimo ritmo de corridas, mas não costumava ir bem nas classificações no começo da temporada. O resultado eram corridas muito divertidas, onde ela fazia um monte de ultrapassagens. Na segunda metade, porém, seu desempenho caiu como um todo, e nem sequer pontuou em Assen ou em Brands Hatch.
A expectativa é que ela retorne para a W Series em 2020 e mostre evolução. Koyama também vem disputando a F3 Asiática e a F4 Japonesa. Somando os dois certames, seu melhor resultado foi na etapa de Suzuka da F3, com dois sétimos lugares.
E Sarah Moore, a oitava, foi outra que começou a campanha muito bem, mas perdeu rendimento nas últimas corridas, tanto que somou 22 pontos na primeira parte do ano, e somente dois na segunda. Ela também corre em um campeonato chamado Britcar, no Reino Unido, que equivale ao Endurance Brasil.
Também garantiram convite para a temporada 2020 da W Series a italiana Vicky Piria, a sul-africana Tasmin Pepper, a americana Sabré Cook e a britânica Jessica Hawkins. A tendência é que grande parte dessas 12 retorne no ano que vem.
Depois de seis etapas e sete boas corridas, a W Series conheceu sua campeã. E você pode clicar aqui para ver os resultados completos da etapa de Brands Hatch, que deu o título a Chadwick, assim como os das principais categorias do automobilismo mundial no fim de semana.
