Foi a Red Bull que ganhou o GP da Áustria da temporada 2019 da F1, mas é muito fácil pensar na McLaren nessa hora. O motivo, claro, é a Honda.
A fabricante japonesa hoje é fornecedora de motores da equipe austríaca, mas de 2015 a 2017 tinha a mesma função na escuderia britânica.
E foram três anos de uma relação que foi de mal a pior.
A parceria começou cercada de expectativas, afinal era a reedição do time que levou Ayrton Senna e Alain Prost a quatro títulos entre o fim da década de 1980 e o começo da de 1990.
Mas nesse novo capítulo nada deu certo. Fernando Alonso, Jenson Button e, mais tarde, Stoffel Vandoorne cansaram de tomar punições por causa da fragilidade do propulsor da Honda, ocupavam com frequência a última fila do grid e seus únicos triunfos foram virar meme na internet.
Alonso, inclusive, não escondia a frustração com o motor nipônico. Ao mesmo tempo em que os integrantes da McLaren diziam que tinham o melhor carro do grid, o espanhol reclamava pelo rádio – que seria reproduzido para todo o mundo durante a transmissão da corrida – que andava com um motor tão potente quanto o de um carro da GP2, a então categoria de acesso da F1.
No fim de 2017, o divórcio era inevitável, e McLaren e Honda se separaram. A equipe inglesa passou a ter os motores da Renault, enquanto a fabricante japonesa ficou um ano apenas trabalhando com a Toro Rosso antes de assumir também a função com a Red Bull.
Avançando 18 meses no tempo, Max Verstappen deu à Honda sua primeira vitória na F1 desde 2006, enquanto a McLaren ainda não voltou ao pódio da principal categoria do automobilismo mundial após o conturbado divórcio. E a situação de Alonso é ainda pior, já que nem conseguiu se classificar para as 500 Milhas de Indianápolis neste ano.
Agora, quem ficar pensando demais nessa revanche da Honda para cima da McLaren pode não perceber a evolução da equipe britânica nas últimas etapas.
McLaren na frente na F1 B 2019
Se levarmos em conta as três últimas etapas realizadas – os GPs do Canadá, da França e da Áustria -, o piloto que mais somou ponto, excluindo os carros de Mercedes e Ferrari, além de Verstappen, foi Carlos Sainz. Ele marcou 12, com um sexto posto em Paul Ricard e um oitavo no Red Bull Ring.
Pierre Gasly, contestado titular da Red Bull, aparece na sequência, com 11. Já Lando Norris, no segundo carro da McLaren, somou dez no mesmo período, sendo nono na França – lembrando que ele perdeu três posições na última volta – e sexto na Áustria.
Nico Hulkenberg, da Renault, obteve os mesmo dez pontos nas três corridas, enquanto Kimi Raikkonen e Daniel Ricciardo (em que pese as duas punições obtidas pelo australiano em Paul Ricard) ficaram com oito.
Com esses resultados, a McLaren se estabilizou na quarta colocação do Mundial de Construtores, com 52 pontos, 20 a mais que a Renault e 30 na frente da Alfa Romeo, que aparecem na sequência.
Claro que não está nada garantido. A briga no meio do pelotão da F1 é muito parelha, e a ordem de forças muda muito, dependendo da pista, da temperatura e das atualizações levadas por cada equipe para as etapas.
Por outro lado, é inegável que a reformulação pela qual a McLaren está passando começa a dar seus primeiros sinais positivos.
O divórcio com a Honda aconteceu no fim de 2017, mas no ano passado, já com equipamento Renault, a equipe não conseguiu voltar às primeiras posições. Pelo contrário. Alonso e Vandoorne praticamente não pontuaram na segunda metade da temporada, e reportagens mostravam o caos que tinha virado a sede da esquadra, em Woking, com ninguém sabendo o que havia de errado com o carro.
Foi aí que a limpeza da McLaren continuou. Se a Honda foi a primeira a sair, em seguida foi a vez de Eric Boullier ser demitido da função de chefe da equipe, assim como Matt Morris, responsável pela área de engenharia. Entre os principais nome, o último a perder o emprego foi Vandoorne, no final da temporada, ficando sem vaga na F1 2019.
Isso sem falar em Alonso. O espanhol não foi demitido, é verdade, mas sua aposentadoria da principal categoria do automobilismo mundial permitiu que a McLaren entrasse de cabeça no processo de reformulação, sem a pressão de precisar dar um equipamento competitivo para o bicampeão.
A partir da segunda metade do ano passado, houve um período de transição, com Gil de Ferran assumindo o dia a dia da equipe e o engenheiro Andrea Stella, ficando responsável pela parte técnica. Os dois foram importantes para permitir que a McLaren continuasse funcionando, e as demissões de 2018 não interferissem no trabalho para a atual temporada.
Reforços para a McLaren na F1
Daí vieram as contratações. Carlos Sainz Jr foi trazido da Renault por ser um piloto rápido em classificações e capaz de pontuar com frequência – tudo o que um time de meio pelotão mais precisa.
Tratado como futura estrela, Lando Norris foi promovido da F2 e já vem mostrando do que é capaz, tendo largado da quinta posição do grid nas duas últimas corridas.
Para a parte técnica, a McLaren trouxe James Key, projetista que estava na Toro Rosso e era apontado como sucessor de Adrian Newey na Red Bull. A fabricante de energéticos, aliás, fez jogo duro e só liberou o engenheiro no começo deste ano, então ele praticamente não tem influência na evolução mostrada pelo time britânico até agora.
Por fim, a escuderia trouxe Andreas Seidl, antigo chefe de equipe da Porsche no Mundial de Endurance para comandar a empreitada. E ele está mostrando serviço, tendo colocado a equipe em quarto nos Construtores.
Agora resta saber se a McLaren conseguirá dar o próximo passo na evolução e, quem sabe, voltar a brigar por pódios e vitórias como em seus dias de glória. A Honda já conseguiu.
Você pode clicar aqui para ver os resultados completos do GP da Áustria de F1, assim como os das principais categorias do automobilismo mundial no último fim de semana.
foto do topo: alberto-g-rovi, own work, CC BY 3.0
