Quando criei o World of Motorsport, lá no início de 2010, eu ainda estava aprendendo o que devia escrever por aqui. Uma das primeiras séries de posts que fiz foi sobre a edição daquele ano do F3 Brazil Open, campeonato que acontecia em Interlagos no mês de janeiro.

Eram quatro corridas em quatro dias de competição, que normalmente coincidiam com o feriado do aniversário da cidade de São Paulo. E, em 2010, André Negrão era o principal piloto brasileiro na disputa. Ele venceu duas provas, enquanto o britânico William Buller triunfou em outras duas. Como, pelo regulamento, quem ganhasse a corrida decisiva era o campeão, foi o piloto europeu quem terminou com a taça.

Por que estou relembrando essa história?

É que, agora, quase dez anos depois, enfim escrevo sobre um título conquistado por Negrão (ao centro na foto de topo).

Neste domingo, o brasileiro foi o campeão da classe LMP2 da super-temporada do WEC. A taça, aliás, veio em grande estilo, com triunfo na sua divisão das 24 Horas de Le Mans, sua segunda conquista na tradicional prova francesa.

Do F3 Brazil Open para o título no WEC, Negrão passou por algumas das principais categorias de base: a World Series by Renault, a GP2 e a Indy Lights. Nesse período, não fez feio, mas nunca esteve entre os favoritos, tendo obtido uma pole e alguns pódios. Mas foi no endurance onde ele se encontrou.

Alpine no topo em Le Mans

Nas provas de longa duração, o brasileiro compete pela equipe Signatech Alpine, que a grosso modo seria como uma Penske ou uma Ganassi da LMP2. É a esquadra mais tradicional e mais forte, tanto que terminou todas as etapas da super-temporada no pódio.

A tripulação da Alpine era ainda composta pelos franceses Nicolas Lapierre (ex-Toyota e Peugeot) e Pierre Thiriet, que pode ser considerado o gentleman driver do trio.

Pelas regras da FIA, todos os carros da LMP2 são obrigados a contar com um piloto categorizado como silver. É uma grande bagunça essa classificação. São considerados silver competidores amadores, mas com bom desempenho no geral, além de quem está estreando nas corridas de longa duração e gente que fez carreira em seus países de origem e ainda não tem tanto destaque internacional.

Ter um gentleman driver na vaga destinada a um silver é ótimo para ter patrocínio garantido e pagar as contas, mas não em termos de desempenho. As equipes da LMP2 logo perceberam que o segredo para ter sucesso era trazer de categorias menores nomes promissores, mas desconhecidos. Esses chegam a ser até um minuto por stint (período entre cada troca de pilotos) mais rápidos que os amadores.

Mas enquanto a Alpine tinha Thiriet, de fato um piloto considerado gentleman driver, suas adversárias foram atrás dos novatos e desconhecidos, conhecidos como super-silvers.

A G-Drive, por exemplo, chamou o holandês Job van Uitert, vindo da F4 Italiana, para seu carro, enquanto a DC tinha Gabriel Aubry, ex-piloto da GP3.

O plano delas quase deu certo. A G-Drive liderava as 24 Horas de Le Mans deste fim de semana até sofrer um problema mecânico, enquanto a DC conquistou três vitórias na super-temporada. Mas, no fim, a Signatech Alpine fez valer a consistência de resultados para ficar com as taças tanto do WEC quanto de Le Mans.

Não que a escuderia francesa seja um Davi contra Golias. Ela própria cansou de abusar de super-silvers, sendo que o próprio Negrão já foi considerado assim (no começo do ano passado foi promovido a gold). Só calhou que, no ano em que tinha um gentleman driver no trio, a equipe conquistou todas as taças.

O troféu de Negrão na LMP2, aliás, é o primeiro título de um piloto brasileiro em 2019.

Para a próxima temporada do WEC – que começa no segundo semestre deste ano -, Lapierre já anunciou sua saída da Signatech. Ele vai para um novo time chamado Cool Racing. Para seu lugar, a esquadra terá Thomas Laurent, novo reserva da Toyota. Negrão deve continuar, assim como Thiriet, o único que ainda não foi confirmado oficialmente.

Daniel Serra e Felipe Fraga em Le Mans

Costumo escrever que o grid da Stock Car é um dos mais fortes do mundo em carros de turismo, talvez ficando atrás apenas do DTM.

Quer dizer, se os pilotos do certame brasileiro tiverem tempo para se adaptar, vão repetir colher resultados em outros campeonatos.

É o que está acontecendo com Serra e Fraga. Eles são os dois campeões mais recentes da Stock, tendo lutado pelo título até o fim da temporada passada. Ao mesmo tempo, nos últimos anos, eles têm participado de corridas de carro GT nos EUA e na Europa.

Adaptados a esse equipamento, os resultados estão vindo. Serra levou pela segunda vez a taça da divisão GTE-Pro em Le Mans, e o curioso é que os triunfos foram por marcas diferentes. Em 2017, pela Aston Martin e, agora, pela Ferrari.

Já Fraga cruzou a linha de chegada em primeiro na classe GTE-Am, em sua estreia na tradicional prova francesa, mas acabou desclassificado por causa de uma irregularidade no tanque de combustível no Ford GT que pilotava

Você pode clicar aqui para ver os resultados completos das 24 Horas de Le Mans de 2019, assim como os das principais categorias do automobilismo mundial no fim de semana.

foto do topo: alpine/divulgação

foto de Daniel Serra
Daniel Serra triunfou pela segunda vez na divisão GTE Pro das 24 Horas de Le Mans – foto: https://www.flickr.com/photos/77326563@N06/, CC BY-SA 2.0

 

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