Fernando Alonso protagonizou o maior vexame da história da Indy 500 ao não conseguir se classificar para a edição deste ano?
Essa é a pergunta que está sendo feita desde que o espanhol ficou com o 34º tempo (de 33 vagas) na classificação das 500 Milhas de Indianápolis, realizada no último fim de semana.
É claro que a resposta vai depender de para quem essa questão for feita. Para mim, ao longo dos quase 110 anos da tradicional prova americana, outras equipes passaram vergonhas maiores, e esse nem mesmo é o ponto mais baixo da carreira de Alonso ou da McLaren, escuderia para qual o bicampeão da F1 competiu nos EUA.
O maior vexame da Indy 500
A eliminação mais surpreendente das 500 Milhas de Indianápolis, até hoje, aconteceu em 1995, quando os dois carros da Penske, pilotados por Emerson Fittipaldi (na foto em destaque, em 1994) e por Al Unser Jr., ficaram de fora. Eles eram favoritos e tinham dominado a edição do ano anterior.
Os problemas começaram logo após a corrida de 1994. Naquele ano, o principal motivo da força da Penske era o motor Mercedes.
Para evitar um novo passeio da escuderia nos anos seguintes, a organização das 500 Milhas aplicou uma série restrições ao propulsor, que diminuía sua potência. Assim, quando Fittipaldi e Al Unser chegaram em Indianápolis, em 1995, logo perceberam que o carro, sem o motor do ano anterior, não era bom. Enquanto os pilotos mais rápidos chegavam próximos a 370 km/h de velocidade média, eles mal alcançavam 350 km/h.
Na época, a classificação durava duas semanas, misturando dezenas de treinos livres com tomadas de tempo. Nesse intervalo, a Penske usou o próprio carro de 1995, testou o chassi usado no ano anterior, conseguiu um modelo Reynard emprestado com outra equipe e ainda recebeu dois Lola, de presente, de Bobby Rahal.
Para Al Unser, nada deu certo. Fittipaldi até conseguiu atingir 365 km/h de média. Mas a Penske considerou que a velocidade ainda estava muito baixa e abortou a tentativa. Ironicamente, teria sido o suficiente para o bicampeão da F1 se classificar. No fim, ele não repetiu mais esse desempenho e precisou ver a corrida pela televisão.
Outros grandes pilotos também já falharam na tentativa de participar da prova, como Juan Manuel Fangio, Denny Hulme, o próprio Rahal e, mais recentemente, Ryan Hunter-Reay.
Mas o mais curioso é que Graham Hill, que depois se tornaria o único piloto a conquistar a Tríplice Coroa, feito que Alonso agora tenta igualar, não se classificou para a Indy 500 de 1963, pois jamais atingiu a velocidade mínima necessária para participar da prova (algo comum, na época).
Assim, fica o consolo para o espanhol. Se Hill conseguiu dar a volta por cima e triunfar nas 500 Milhas três anos depois, nada o impede de fazer o mesmo.
O ponto mais baixo da McLaren
Como qualquer equipe no esporte a motor, a McLaren já teve momentos de altos e baixos, e claro que a não classificação em Indianápolis está entre os piores momentos do time.
Mas fora das pistas a escuderia britânica já teve uma boa dose de episódios vergonhosos. Um deles foi o spygate. Durante a temporada 2007 da F1, um engenheiro da McLaren, chamado Mike Coughlan, foi acusado de receber dados sigilosos da Ferrari, que estavam sendo encaminhados por Nigel Stepney, um dos membros mais veteranos da esquadra de Maranello. Essa prática é considerada espionagem e proibida pelo regulamento da F1.
O problema é que a McLaren praticamente não cooperou com as investigações. Quando descobriram que Coughlan tinha um dossiê de quase 800 páginas sobre a adversária, os chefes da equipe britânica foram interrogados, mas disseram que apenas o engenheiro teve acesso aos documentos, e nada foi usado para levar vantagem.
Para piorar, a McLaren alegou que Stepney, na verdade, tinha vazado as informações para alertar que o assoalho da Ferrari era ilegal, então era a escuderia italiana que deveria ser punida.
O caso foi fechado durante o mês de julho, sem que ninguém fosse punido, mas reaberto cerca de um mês depois, porque Alonso resolveu dedurar a mentira de sua equipe.
O espanhol estava irritado na época, porque queria ser o primeiro piloto da McLaren, mas Lewis Hamilton, então estreante na F1, estava levando algumas vantagens. Após uma briga no GP da Hungria, o bicampeão mandou um e-mail para a FIA dizendo que tanto ele quanto Pedro de la Rosa, piloto de testes na época, tinham mantido contato com Coughlan sobre as informações da Ferrari.
A FIA, então, reabriu as investigações, fez uma espécie de acordo de delação premiada com Alonso, de la Rosa e Hamilton, permitindo que eles continuassem disputando o título, desde que cooperassem com o caso. No fim, a McLaren foi considerada culpada das acusações, foi multada em US$ 100 milhões e desclassificada do campeonato daquele ano.
O escândalo que envolveu Alonso
No ano seguinte, em 2008, o bicampeão esteve envolvido em outro escândalo: o do cingapuragate. No GP da Alemanha, Nelsinho Piquet, então companheiro do espanhol na Renault, esteve na briga pela vitória – e terminou em segundo -, porque deu a sorte de ter feito seu pit-stop para reabastecimento pouco antes de o safety-car ser acionado por causa de um acidente.
No regulamento da época, os boxes fechavam quando o carro de segurança entrava na pista. Assim, o pelotão era reagrupado, e quem já tinha feito a parada levava vantagem, pois podia recuperar o tempo perdido. Dessa maneira, no momento em que todos os demais pilotos foram aos boxes, o brasileiro assumiu a primeira colocação.
O episódio fez a Renault ter uma ideia. E se em alguma corrida Alonso fosse chamado aos boxes e logo em seguida o safety-car fosse acionado?
Foi o que aconteceu no GP de Cingapura. E o que causou a entrada do carro de segurança foi justamente uma orientação do diretor Pat Symonds e do chefe da equipe, Flavio Briatore, para que Piquet batesse de propósito – cumprida pelo brasileiro.
Quando foi dispensado pela escuderia francesa no ano seguinte, Piquet revelou que o acidente tinha sido premeditado. A investigação da FIA lhe deu razão, e condenou a Renault a dois anos em observação, isto é, caso a equipe voltasse a ser cometer alguma atitude antidesportiva nesse período, seria proibida para sempre de correr na F1.
Briatore foi imediatamente banido da categoria, enquanto Symonds foi proibido de trabalhar no certame por cinco anos. Os dois pilotos escaparam de punição. Piquet ganhou imunidade por causa da deleção, mas nunca mais correu na F1, enquanto nunca houve uma confirmação de que Alonso sabia do plano, apesar de ter sido o principal beneficiado.
Veja abaixo mais textos do especial Indy 500:
> Os 7 pecados de Alonso para ficar fora das 500 Milhas
> Quando a Ferrari quase correu na Indy
> A menor 500 Milhas de Indianápolis
foto do topo: rick dikeman – own work, CC BY-SA 3.0, link
