“The Greatest Spectacle in Racing” (o maior espetáculo do automobilismo, em inglês). Esse é um dos apelidos pelos quais as 500 Milhas de Indianápolis são conhecidas.

Não é nenhum exagero. Afinal são cerca de três horas de corrida, com 33 carros girando em torno de 360 km/h de média. Sempre há acidentes, e são tantas opções de estratégia, que vez ou outra acontece alguma surpresa no resultado, como foram as vitórias de Takuma Sato e Alexander Rossi recentemente.

Mas nem sempre houve boas disputas, e talvez uma das edições das 500 Milhas poderia ter recebido o apelido de “o menor espetáculo do automobilismo”: a de 1996.

Quem acompanha a Indy há mais tempo já deve ter se ligado qual foi o problema daquela corrida. É que foi a primeira realizada após a cisão entre a IRL e a Cart.

Resumindo a separação entre as categorias, no começo dos anos 1990, um dirigente chamado Tony George, cuja família é dona da pista de Indianápolis, estava descontente com os rumos que a Cart estava tomando. Ele acreditava que o campeonato estava ficando muito caro (o que poderia futuramente comprometer a competitividade) e dizia que havia poucas etapas em ovais.

As 500 Milhas de Indianápolis e a cisão

Sua solução foi criar um novo certame, chamado IRL, cujo orçamento para as equipes participarem era menor que o da concorrente. Mas o principal chamariz do campeonato não era a economia de dinheiro. Era contar com as 500 Milhas de Indianápolis, que até 1995 faziam parte do calendário da Cart.

Por um lado, Goerge buscava que os principais pilotos de sua concorrente continuassem competindo nas 500 Milhas, mesmo após a separação. Por outro, ele criou um pacote de regras que beneficiava os times da recém-criada IRL.

Por exemplo, a Cart tinha estreado um novo carro em 1996, que foi banido de Indianápolis. Motores fabricados até 1995 estavam liberados, enquanto os novos, como o Toyota e a atualização do Ford, estavam proibidos.

Mas a medida mais polêmica foi uma regra chamada de 25/8. Ela dizia que os times que estavam nas 25 primeiras colocações da IRL já estavam garantidos nas 500 Milhas, independentemente do resultado da tomada de tempos. Sendo assim, as equipes da Cart – cujas corridas atraíam mais de 25 participantes – precisariam disputar somente as outras oito vagas entre elas e com quem mais tivesse interesse em participar da prova.

As escuderias da concorrente ficaram furiosas com essa regra e decidiram boicotar a Indy 500. Para o mesmo dia, elas marcaram outra corrida de 500 Milhas, mas no oval de Michigan.

Como resultado, o nível da Indy 500 despencou de 1995 para 1996, uma vez que as principais estrelas do automobilismo americano não estavam mais participando da prova.

Antigos campeões como Bobby Rahal, Emerson Fittipaldi e Al Unser Jr. tinham contrato com equipes da Cart e correram em Michigan naquele fim de semana. O vencedor de 1995, Jacques Villeneuve, estava ainda mais longe. Ele havia assinado contrato com a Williams e foi para a F1.

E ídolos como Mario Andretti, Danny Sullivan e A.J. Foyt tinham se aposentado há pouco tempo.

De todo o grid de 1996, o único piloto que já tinha ganhado as 500 Milhas alguma vez era o holandês Arie Luyendyk. E parte dos inscritos era até mesmo formada por participantes de campeonatos semi-amadores dos EUA, onde eram usados equipamentos defasados da Cart.

É justamente por essa repentina troca de geração que a Indy 500 de 1996 poderia ser considerada o menor espetáculo do automobilismo.

Houve ainda uma notícia triste naquele mês de maio. No treino livre que antecedeu o Bump Day, o experiente americano Scott Brayton, que havia conquistado a pole-position, morreu em decorrência de um forte acidente que sofrera na curva 2.

A corrida

Durante a corrida, alguns favoritos foram ficando pelo caminho. O estreante Tony Stewart, que havia herdado a primeira colocação do grid, abandonou logo no começo devido a uma falha no turbo do seu carro. E Luyendyk deixou a disputa por um toque com o chileno Eliseo Salazar depois de uma parada nos boxes.

A prova, aliás, foi bastante conturbada, e apenas cinco pilotos estavam na volta do líder nos giros finais. Um deles era Buddy Lazier (na foto do topo), que apostou em uma estratégia de combustível diferenciada e conseguiu segurar Davy Jones (um dos únicos inscritos da Cart) para ficar com a vitória.

O curioso é que, antes de Indianápolis, nem Lazier, nem Jones jamais tinham chegado entre os cinco primeiros de uma corrida da Indy/Cart/IRL.

Com o passar dos anos, aos poucos, os patrocinadores das equipes da Cart começaram a sugerir que seus pilotos voltassem a disputar as 500 Milhas de Indianápolis, por causa da exposição que a prova ainda tinha. Tanto que, em 2000, Juan Pablo Montoya foi o vencedor, correndo pela Ganassi, enquanto Helio Castroneves, de Penske, triunfou nos dois anos seguintes.

Aí a porteira abriu de vez, e muitas escuderias da Cart optaram por se transferir em tempo integral para a IRL, culminando com a reunificação em 2008.

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foto do topo: doctorindy, own work, CC BY-SA 3.0

foto das 500 Milhas de Indianápolis com Al Unser Jr. e Raul Boesel
Al Unser Jr e Raul Boesel disputaram a Indy 500 de 1994, antes da cisão – foto: rick dikeman, own work, CC BY-SA 3.0

 

 

 

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