Fãs da F1 já devem ter se pegado pensando como teria sido a carreira de Ayrton Senna, caso o brasileiro não tivesse sofrido o acidente fatal no GP de San Marino de 1994, há 25 anos.
Será que ele conquistaria mais títulos mundiais? Iria correr na Indy, nas 24 Horas de Le Mans, na Nascar? Viraria dono de equipe no automobilismo ou preferiria ser político?
E uma das histórias mais frequentes é se Senna poderia ter encerrado sua carreira na F1 na Ferrari.
Ver o tricampeão correndo pela escuderia de Maranello não era apenas um desejo de seus torcedores. Poderia mesmo ter se tornado realidade. É que, de fato, houve negociações. Muitas delas reveladas nos últimos anos por jornalistas, como Reginaldo Leme, que era próximo de Senna na sua época na F1. E, mais recentemente, pelo ex-presidente da Ferrari Luca di Montezemolo, que confirmou conversas com o brasileiro para contratá-lo após sua passagem pela Williams.
Negociações de Senna com a Ferrari na F1
Na verdade, ao longo de sua carreira, Senna teve diversas negociações com a Ferrari. Algumas mais sérias que as outras.
No programa Roda Viva, da TV Cultura, em 1986, o piloto revelou ter sido sondado pela escuderia de Maranello para o ano seguinte, mas optou pela Lotus, por causa do motor Honda.
A mais famosa das tratativas, porém, aconteceu quatro anos mais tarde. No fim de 1990, o vínculo de três anos que Senna tinha com a McLaren estava acabando, e o piloto foi procurado por Cesare Fiorio, então chefe de equipe da Ferrari.
Naquela época, o GP do Brasil acontecia logo no começo da temporada, e o vencedor foi Alain Prost, então na equipe italiana. Fiorio aproveitou que já estava no Brasil e marcou uma reunião com Senna após a corrida. Na conversa, eles acertaram 80% do contrato, mas ainda faltava alguns pontos.
Um deles era um conflito dos patrocinadores (o brasileiro tinha o Banco Nacional e a Ferrari, a Marlboro) sobre as partes de maior destaque do uniforme. Mas nada que pudesse impedir um eventual acerto. Tanto que eles marcaram uma nova reunião para dias antes do GP da França, alguns meses depois.
Com a maior parte dos pontos acertados, Fiorio escreveu uma carta de intenções, documento que apontava os termos do possível futuro contrato entre Senna e Ferrari. O problema é que o presidente da equipe italiana na época, Piero Fusaro, descobriu a carta e a mostrou para Prost. Nem precisa dizer que o clima na escuderia azedou de vez, e Fiorio foi obrigado a pedir demissão.
Para o brasileiro, foi uma boa ter ficado na McLaren. Enquanto ele venceu o título da F1 em 1991, Prost foi demitido da Ferrari no fim daquele ano por dizer que o equipamento era uma verdadeira carroça.
Piloto e equipe voltaram a se falar em 1993. Senna sabia que a McLaren não tinha mais condições de brigar com a Williams de igual para a igual e buscava novos rumos para sua carreira.
O que ele queria mesmo era substituir Prost na escuderia britânica. Mas como essa era uma negociação complicada – o francês tinha vínculo para 1994 -, o tricampeão buscou um plano B. E era a Ferrari. Nesse ponto, a história muda dependendo de para quem perguntar.
Há uma frase famosa atribuída a Senna dizendo que ele optou por assinar com a Williams porque preferia ganhar corridas a ganhar dinheiro, uma vez que a proposta da Ferrari seria mais vantajosa financeiramente. Já Jean Todt, hoje presidente da FIA e chefe de equipe de Maranello na época, afirma que ele recusou a contratação do brasileiro porque seus dois pilotos, Gerhard Berger e Jean Alesi, tinham contrato válidos.
Aí chegamos a 1994, ano que mudou o automobilismo mundial como um todo.
Em uma entrevista ao podcast oficial da F1, Luca di Montezemolo, que era presidente da Ferrari, disse ter se encontrado com Senna dias antes do GP de San Marino. Como tanto a escuderia italiana quanto o piloto eram contrários à eletrônica cada vez maior nos carros de F1, havia um respeito muito grande entre eles, e o clima era muito bom.
Segundo Montezemolo, o brasileiro contou que pretendia terminar sua carreira na F1 pela Ferrari. O piloto tinha dito que, se ele não fosse para Maranello em 1995 (quando ainda tinha contrato com a Williams), iria no ano seguinte.
Obviamente, a negociação não andou, uma vez que o tricampeão morreu dias depois no trágico acidente em Imola.
Assim, nunca vamos saber o quanto ele realmente estava disposto a romper o contrato com a Williams, ainda mais se Michael Schumacher de fato terminasse 1994 como campeão.
Má fase da Ferrari na F1
Naquela época a Ferrari era uma equipe em reestruturação (só venceu uma única vez entre 1991 e 1994), então dificilmente Senna seria competitivo em seu primeiro ano em Maranello. Por isso, talvez ele optasse por ficar na Williams, enquanto o time britânico lutasse por títulos.
Como a história conta, a mudança do patamar na Ferrari aconteceu a partir de 1996, quando a escuderia contratou os principais nomes da Benetton bicampeã do mundo – Schumacher, o diretor-técnico Ross Brawn e o projetista Rory Byrne.
Assim, será que em 1996, com 36 anos de idade, Senna aceitaria fazer parte desse dream team de Maranello? Isso só nos resta imaginar.
Veja abaixo outros especiais sobre Ayrton Senna:
> Por que Senna tem mais poles que vitórias na F1?
> Por onde anda a equipe em que Senna correu na F3?
> 13 textos para entender quem foi Senna
