Quem acompanha as categorias menores deve estar estranhando o título deste post, uma vez que não há nenhum brasileiro disputando este ano a F3 Euro. Então como pode um representante do país ser o primeiro colocado na tabela?

Este texto não é sobre um piloto. É sobre a parceria entre Enaam Ahmed, líder do certame, com Roberto Streit (de camisa cinza nas fotos), que atua como seu coach.

Foi o próprio Ahmed que ressaltou a importância do trabalho do ex-piloto brasileiro. Após conquistar duas vitórias na etapa de Hungaroring, no último fim de semana, o britânico usou as redes sociais para agradecer o suporte de Streit nas últimas temporadas.

Antes de trabalhar como uma espécie de técnico de jovens pilotos, Streit já foi considerado um dos principais nomes do automobilismo brasileiro, no começo da década de 2000.

Na época, ele seguia os passos de Felipe Massa. Tinha vencido a F-Chevrolet aqui no país, em 2001, e se mudado para a Europa no mesmo ano, ganhando o torneio de inverno da F-Renault Italiana.

Só que enquanto Massa pavimentava seu caminho rumo à Ferrari, a carreira de Streit guinou para o oriente. Do outro lado do planeta, a taça da F3 Japonesa de 2007 escapou por pouco. Foi o piloto com mais vitórias e pontos somados naquela temporada, mas as regras determinavam o descarte dos piores resultados. Como Streit tinha mais pontos a perder, a taça ficou com o japonês Kazuya Oshima, que teve dois abandonos ao longo da campanha.

Ainda assim, o brasileiro conseguiu a promoção para a Formula Nippon – hoje chamada de Super Formula -, a principal categoria de monopostos do automobilismo japonês. Logo na estreia, terminou no pódio.

Sua passagem pelo campeonato, contudo, durou apenas uma temporada. Em 2009, a categoria trocou os chassi Lola pelo Swift. Como havia menos carros construídos e poucas equipes dispostas a pagar pelo novo equipamento, o número de vagas diminuiu, e Streit ficou a pé. Ele ainda ensaiou uma volta para a Europa, competindo com carros GT, conquistando uma vitória, e foi só.

Fora das pistas é que acabou fazendo sucesso. Junto com o italiano Luca Persiani, fundou a Racing DNA, uma empresa cujo objetivo é orientar jovens pilotos – apontando desde a melhor forma de guiar o carro em cada curva até quais devem ser os passos seguintes da carreira.

Nomes como Sergio Sette Câmara e Pipo Derani já foram clientes da Racing DNA. Segundo o site da empresa, hoje três piloto contam com seus serviços: Vitor Baptista e o mexicano Diego Mechaca (da GP3), além de Ahmed.

Na postagem nas redes sociais, o britânico agradeceu a Streit pelos dois anos trabalho, período que coincide justamente com a melhor fase de Ahmed no esporte a motor.

FIA Formula 3 European Championship 2018, round 2, race 3, Hungaroring (HUN)

Campeão mundial de kart na divisão Junior em 2014, o atual líder da F3 Euro já foi considerado um piloto que não deu certo pelo desempenho bem abaixo do esperado no começo da carreira.

Como fez a transição para os monopostos junto com Lando Norris, em 2015, a expectativa era que os dois lutassem pelo título da F4 Inglesa naquela temporada. Enquanto o compatriota de fato foi o campeão, Ahmed terminou só em oitavo, com uma única vitória conquistada na última etapa.

No ano seguinte, subiu para a F3 Inglesa e viu seu companheiro de equipe – o australiano Thomas Randle, então estreante nas pistas europeias – lutar pelo título com Matheus Leist. Ahmed foi só o quinto na tabela, novamente com um único triunfo.

Em 2017, continuou na F3 Inglesa, assinou com a Carlin, principal equipe do certame, e, enfim, conseguiu mostrar tudo o que esperavam dele desde a época do kartismo: em 24 corridas, recebeu a bandeira quadriculada em primeiro em 13 delas, além de ter subido ao pódio em outras cinco provas.

Para esse ano, decidiu se transferir para a F3 Euro, assinando com a Hitech, escuderia britânica que tem um dos melhores equipamentos da categoria, mas que até hoje não conseguiu a mesma consistência de resultados que os pilotos de Prema e Carlin.

Após seis corridas em 2018, Ahmed obteve duas poles, duas vitórias e um segundo lugar. Soma 83 pontos, 18 a mais que o veterano Guanyu Zhou, o vice-líder na tabela.

E nem dá para colocar o bom desempenho só na conta do equipamento. Andando pela mesma Hitech, o veterano Álex Palou (que já passou por Euroformula Open, GP3 e F3 Japonesa) é o sétimo colocado. Ben Hingeley, o outro piloto do time e também estreante no certame, ocupa a distante 12ª posição na classificação do campeonato.

Streit não é o único piloto que encontrou mais sucesso fora das pistas. Desde o começo da carreira, Matheus Leist, hoje na Indy, tem trabalhado com Danilo Dirani (contemporâneo de Lucas di Grassi e Bruno Senna na F3). Lando Norris é o principal nome de uma empresa chamada Add, enquanto a Winway ganhou destaque pela parceira com a Prema na F3 Euro, e tem como clientes Robin Frijns e Daniel Juncadella, ambos do DTM, e Lance Stroll, na F1.

Muitos desses coachs argumentam que atletas do tênis e do judô, por exemplo, têm seus próprios treinadores, então com os pilotos não deveria ser diferente. Afinal, hoje se gasta muito dinheiro no esporte a motor, então o ideal é que os competidores estejam o mais bem preparado possível na hora que entram nos carros.

Você pode clicar aqui para ver os resultados completos da F3 Euro em Hungaroring, assim como os das principais categorias do esporte a motor no último fim de semana.

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