Duas notícias nesta quinta-feira, dia 8, mostraram que a situação no degrau imediatamente anterior à F1 é preocupante, e a falta de pilotos no automobilismo europeu – ao menos nos monopostos – pode ser um problema real nos próximos anos.
A primeira delas foi a F2 divulgar a lista de inscritos para a temporada 2018 com apenas dez equipes, menor número desde que o campeonato ainda se chamava F3000. Com relação aos times anunciados no fim do ano passado, a Fortec desistiu de entrar no certame, enquanto a Race Engineering se mandou para a ELMS. Por outro lado, a Russian Time, que já tinha dado a entender que fecharia as portas, voltou.
Lembrando que a Rapax tinha deixado a categoria após o fim da última temporada.
O motivo para as equipes saírem da F2 é que são poucos os pilotos que querem correr por lá. É um certame muito caro, e não dá nenhuma garantia de que o campeão vá chegar à F1.
Para alcançar a principal categoria do automobilismo mundial, hoje com apenas 20 vagas, é preciso fazer parte do programa de jovens pilotos de alguma equipe ou ser bastante endinheirado.
Não por acaso o grid da F2 até agora é praticamente todo formado por pilotos assim. Antonio Fuoco tem apoio da Ferrari, George Russel conta com suporte da Mercedes e Jack Aitken, da Renualt. Lando Norris e Nyck de Vries são do programa da McLaren, enquanto Nirei Fukuzumi corre pela Honda.
Já Sergio Sette Câmara, Sean Gelael e Louis Délétraz estão no grupo dos que têm muitos recursos – não estou entrando no mérito da qualidade deles, até porque o brasileiro e o suíço têm currículos respeitáveis.
A exceção é Luca Ghiotto, que não faz parte de nenhum programa júnior nem é milionário. Talvez alguém precise perguntar para ele por que está queimando dinheiro por mais uma temporada na F2 se as chances de subir para a F1 são mínimas.
Se já não faz muito sentido andar na F2, ir para outra categoria nesse degrau antes da F1 faz menos ainda. Até o ano passado ainda existia a World Series, mas ela também fechou as portas, por uma série de motivos, como o fim do apoio da Renault, a FIA propositalmente beneficiar suas categorias – a F2 e a F3 – na distribuição dos pontos para conseguir a superlicença e a aproximação da WS com o WEC.
Ser uma categoria de acesso ao Mundial de Endurance pode até parecer uma boa ideia, mas a World Series comprovou que não é. O sucesso de pilotos como Gustavo Menezes, Jake Dennis e Harri Newey nas corridas de longa duração mostrou que é possível pular da F3/GP3 direto para o endurance, sem passar para a F2, que se mostra dispensável para quem quer seguir carreira fora da F1.
A segunda notícia foi o anúncio dos pilotos da Toyota na Super Formula, principal categoria de monopostos do Japão e que tem servido como alternativa à F2. A Honda já havia revelado seus representantes.
Com apenas 20 carros na F2, dava para pensar que alguns pilotos do ocidente pudessem ir para o campeonato nipônico como forma de darem prosseguimento às suas carreiras. Mas com o que se viu foi uma diminuição no número de estrangeiros por lá.
Ano passado, seis pilotos de fora do Japão disputaram a categoria: Pierre Gasly, Felix Rosenqvist, André Lotterer, Nick Cassidy, Narain Karthikeyan e Jann Mardenborough.
Desses, ficaram apenas Cassidy e Karthikeyan. Gasly foi para a F1, Rosenqvist se transferiu para o também nipônico Super GT – além de competir na Formula E -, Lotterer vai se dividir entre os carros elétricos e o WEC, enquanto Mardenborough acabou dispensado pela equipe Impul. A única novidade foi o britânico James Rossiter, que já competia no Super GT.
Há ainda duas vagas em aberto: a que era de Rosenqvist na equipe LeMans, acostumada com estrangeiros, e outra na B-MAX, time ligado à Nissan e que já teve Mardenborough em outras categorias.
Para esses lugares são especulados Pascal Wehrlein (agora fora da F1), Oliver Rowland e Maximilian Gunther. Ou seja, mesmo que dois deles acertem com as equipes da Super Formula, ainda haverá menos estrangeiros em 2018.
Enquanto existe o temor que a falta de pilotos se espalhe para F3 e F4, a solução precisa vir da parte de cima da pirâmide, na F1.
É necessário que haja mais de 20 vagas na categoria, para haver uma renovação do grid maior a cada ano. Ou seja, assim mais pilotos iriam para a F2, pois saberiam que há mais espaço para eles no campeonato principal.
Ao mesmo tempo, a F1 precisa adotar uma premiação mais igual para as equipes e/ou um teto de gastos. Dessa maneira, os times intermediários seriam menos dependentes de pilotos endinheirados para completar seus orçamentos. E faria mais sentido para gente como Luca Ghiotto ficar alguns anos na F2 em busca de uma chance.
Muito triste essa situacao, a F3 tem sido a porta de acesso mais eficiente à F1, e o efeito Verstapen/Stroll quer achatar ainda mais o tempo nas categorias de base.
Além disso, os pilotos ficam cada vez mais tempo na F1 e gente como Button, Massa, Alonso ja entrando pra categoria de “perenes”. Outros como Hulkenberg e Grosjean parecem dispostos a ficar mais alguns anos, mesmo como improvaveis candidatos a futuros ganhadores de corrida.
Some-se a isso pilotos de qualidade discutivel ocupando os poucos lugares disponiveis (Oi Ericsson!), por diversos motivos.
Vimos na ultima década vários talentos passarem ao largo da Formula 1 apesar de terem mostrado que tinham café no bule (Frjins, pra ficar num so nome).
A Formula 2 está ficando cada vez mais sem sentido. Por muito tempo o Ecclestone tinha por “missao” colocar o campeao da categoria em algum cockpit da categoria superior, e a Liberty poderia se ocupar de algo do tipo, talvez aos moldes da Indy Lights.
Felizmente esse ano vamos ver o Leclerc subindo um degrau, gracas ao apoio da Ferrari e suas manobras contratuais somados à varrida que o monegasco deu na concorrencia, mas tudo aponta que para os proximos anos muitas mudancas estruturais devem acontecer nas categorias de acesso, já que elas atendem cada vez menos a Formula 1.
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