Kevin Harvick e Ryan Newman tiveram abordagens opostas em 2014
Kevin Harvick e Ryan Newman tiveram abordagens opostas em 2014

Ao longo dos anos, Kevin Harvick ganhou o apelido de ‘The Closer’ na Nascar pela habilidade de ganhar corridas com ultrapassagens nas voltas finais, mesmo tendo largado apenas no meio do grid. Em 2014, a situação mudou um pouco. O americano passou a se classificar bem – 9,1 de posição média de largada –, mas não conseguia transformar esse ritmo em vitórias, fosse por problemas mecânicos, acidentes ou erros tanto do piloto quanto da equipe nos boxes.

Na verdade, Harvick não deixou o apelido para trás. Se antes ele era especialista em chegar forte nas voltas finais de uma corrida, agora ele mostrou que não amarela nos momentos de decisão de um campeonato. Com vitórias nas duas últimas etapas do ano, em Phoenix e em Homestead-Miami, o americano garantiu o primeiro título da carreira na principal divisão da Nascar.

A campanha, aliás, foi irretocável. Após as 36 corridas, o piloto da Stewart-Haas obteve cinco vitórias, oito poles e liderou 2137 voltas, mais do que qualquer outro competidor. A última dessas voltas foi a decisiva em Homestead, quando recebeu a bandeira quadriculada com uma vantagem de 0s5 para Ryan Newman, o vice em 2014.

Ao contrário de Harvick, o novo piloto da RCR teve uma temporada mais modesta. Não largou na frente, não ganhou e só liderou 41 giros no ano. Se tivesse liderado uma 42ª – a última da decisão –, a história teria sido outra. Por isso, quando os quatro finalistas do Chase foram conhecidos, a presença de Newman foi a que gerou maiores reclamações. Afinal, como pode um piloto que sequer venceu em 2014 estar na luta pela taça, enquanto nomes como Brad Keselowski (seis triunfos no ano), Jeff Gordon (quatro) e Jimmie Johnson (quatro) ficaram fora da disputa?

Mas essa crítica é um pouco surpreendente. Imagino que venha de alguém que não acompanhe automobilismo tão de perto. A história do esporte a motor está repleta de exemplos de pilotos que tinham carros imbatíveis, mas não conseguiam terminar todas as corridas contra adversários mais cerebrais, que não venciam muito, mas estavam sempre somando pontos importantes.

E não dá para dizer que Newman foi à decisão em Homestead por sorte. O americano conquistou 16 top-10 na temporada e, quando o corte do Chase aconteceu após a prova de Richmond, ele era o oitavo na tabela, apenas seis pontos atrás de Harvick. E isso num ano que Clint Bowyer, o 11º, sequer chegou à fase final da temporada. Por isso, se houver alguma correção para fazer no formato dos playoffs para o ano que vem, certamente não é evitar que um novo Ryan Newman esteja na decisão.

A última das 2137 voltas lideradas por Harvick no ano
A última das 2137 voltas lideradas por Harvick no ano

Talvez o maior problema do formato da fase final da Nascar é que é praticamente impossível se recuperar – salvo uma vitória – em caso de abandono. Basta ver que Gordon conquistou dois segundos lugares em três corridas da semifinal, mas ainda assim acabou eliminado graças ao 29º posto no Texas, onde havia dominado a prova, mas se envolvido em um toque com Keselowski nas voltas finais.

Quem também sofreu com esse sistema foi Kyle Busch. Ele era o terceiro dos 12 do Chase após a corrida de Charlotte, mas a batida em Talladega acabou com as chances de avançar à semifinal. Até Harvick correu o risco de ficar de fora da decisão, caso não tivesse vencido em Phoenix, em virtude da batida em Martinsville.

Para evitar que isso aconteça no ano que vem, a Nascar pode alterar o formato dos playoffs. Gordon, por exemplo, já sugeriu à categoria que os pilotos não tivessem a pontuação igualada após cada grupo de três etapas. Assim, quem foi bem no começo poderia ter uma gordura para queimar em caso de problema mecânico ou acidente. O problema dessa ideia é chegar a Homestead com alguém precisando apenas largar para ser campeão.

Uma alternativa seria mudar o formato de 3-3-3-1 para 2-3-4-1 no Chase. Isto é, ao invés cortar os pilotos a cada três corridas, a primeira fase – com 16 competidores – seria mais curta, enquanto a semifinal – com oito – levaria quatro provas. Há duas vantagens aí. Com 16, mesmo que um piloto tenha um mau resultado, a chance de isso também acontecer com os adversários é maior. Daí ele pode conseguir se recuperar para avançar. Uma prova a menos na primeira fase também significa que Talladega deixa de ser a corrida de eliminação na fase seguinte, o que dá uma margem menor pra a sorte. E ter quatro provas na semifinal acaba premiando a regularidade e permitindo que, mesmo quem abandonar alguma, ainda tenha uma alcançar a final.

Enquanto a Nascar não anuncia se haverá alguma novidade em 2015, o novo Chase deixou claro que o mais importante para avançar até a final é ter regularidade. Mas, como Newman mostrou, nada feito se você não tiver velocidade o suficiente para liderar ao menos a última volta da temporada.

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