
Alguém que acompanha o noticiário da F1 mais de perto sabe que a quarta-feira da véspera de um GP não é exatamente o dia mais movimentado. Como os jornalistas do mundo todo estão chegando para a corrida – neste fim de semana na China – e pilotos e equipes estão terminando o processo de adaptação, são poucas as histórias originais.
Nesta quarta, dia 16, não foi diferente. Os principais assuntos do dia, na verdade, foram apenas continuação do que já estava sendo falado. Um deles foi o presidente da Ferrari, Luca Di Montezemolo, explicando a escolha de Marco Mattiacci para o lugar de Stefano Domenicali, ao dizer que a partir de agora estará mais perto da escuderia. O outro é a Force India tomando a liderança das equipes menores na luta pelo teto orçamentário.
Para preencher esse buraco editorial, até Juan Pablo Montoya ganhou espaço ao chamar de loucura o projeto da Haas para se juntar à F1. Nada contra o colombiano, mas tenho minhas dúvidas se ele é o melhor analista dessa aproximação entre Nascar e F1.
Mas mesmo em um dia pouco movimentado, uma notícia passou praticamente despercebida nos principais portais internacionais: a Nissan ter escolhido o japonês Satoshi Motoyama para pilotar o Zeod nas 24 Horas de Le Mans.

A opção pelo nipônico foi surpreendente ainda mais por Jann Mardenborough ser considerado favorito à vaga. Descoberto no videogame pelo programa da GT Academy, o britânico estreou em Le Mans, no ano passado, com o terceiro lugar na categoria LMP2 e está sendo lapidado com cuidado pela montadora japonesa. Tanto é que neste ano vai competir na GP3.
Assim, o que teria levado a montadora a colocar Motoyama no lugar? Além de toda a conhecida habilidade do japonês – tricampeão do SuperGT – a Nissan teve classe.
É que a última passagem do nipônico pelo tradicional circuito de La Sarthe não acabou bem. Para quem não lembra, Motoyama foi um dos três escolhidos para guiar o Delta Wing na estreia do carro em 2012. Ele assumiu o bólido ainda nas primeiras seis horas de prova, mas acabou sofrendo um acidente ao ser jogado para fora da pista pelo compatriota Kazuki Nakajima, da Toyota.
Como as regras em Le Mans impedem que as equipes possam consertar o carro fora do pit-lane, Motoyama tentou sozinho fazer os reparos necessários para voltar aos boxes e tentar salvar a permanência do time na corrida.
Em uma cena de partir o coração, ele ia de um lado por outro, ouvia instruções da equipe, mexia aqui, mexia ali, tentava ligar o carro, nada, voltava, fazia uma coisa, fazia outra, até perceber que o exército de um homem só não daria conta de vencer a batalha para consertar o Delta Wing. Veja o vídeo, é de chorar.
Após a prova, Motoyama pediu mais uma chance de guiar o Delta Wing após tudo o que passou e mostrar o potencial dele e do equipamento. No entanto, como ele não pôde disputar a Petit Le Mans no fim de 2012 por causa de compromissos com o SuperGT, e a Nissan cortou o apoio ano seguinte, o nipônico nunca mais voltou ao bólido.
Só que, como se sabe, a montadora aproveitou o knowhow obtido para criar a própria versão do Delta Wing, mas com um motor elétrico, o Zeod, que estreia nas 24 Horas de Le Mans deste ano. E nada mais justo que colocar Motoyama para ser um dos pilotos dessa empreitada.
Parabéns, Nissan, você merece todos os aplausos dessa vez.
P.S.: o Zeod também terá um brasileiro no comando. A montadora anunciou que Thomas Erdos, bicampeão das 24 Horas de Le Mans na categoria LMP2, vai participar do dia de treinos coletivos, em 1º de junho, já que tanto Motoyama quanto Lucas Ordoñez estarão competindo no Japão na mesma data. O terceiro piloto do time é o belga Wolfgang Reip, também descoberto no PlayStation.
Mito …
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