Sem receber, Kimi Raikkonen já está dormindo no paddock e mendingando entre os treinos
Sem receber, Kimi Raikkonen já está dormindo no paddock e mendingando entre os treinos

É verdade que Romain Grosjean liderou o primeiro treino livre do GP de Abu Dhabi, mas quem chamou a atenção nesta sexta-feira, dia 1, foi Kimi Raikkonen. O campeão da temporada 2007 da F1 ameaçou não participar das últimas duas etapas do ano – em Austin e em Interlagos – caso não recebe parte do salário atrasado nesta temporada.

O finlandês alega não ter recebido nada durante o campeonato. Nem salário base, nem bônus por pontos. A Lotus, por sua vez, já afirmou que vai quitar todos os débitos ao fim do campeonato, já que neste momento a prioridade era investir no desenvolvimento do carro.

Levando em conta que não aconteceu nada de novo – a Lotus segue sem pagar e Raikkonen, sem receber – por que o piloto decidiu se rebelar apenas neste momento do campeonato?

Alguém pode afirmar que foi profissionalismo. Ele esperou o campeonato ser definido em favor de Sebastian Vettel e da Red Bull antes de escancarar os problemas do time. No entanto, a verdade é que o homem de gelo acabou tendo o orgulho ferido no último fim de semana, durante o GP da Índia.

Na corrida de Buddh, o diretor de operações da Lotus, Alan Permane, discutiu com o finlandês pelo rádio e continuou dando uma bronca que não foi bem digerida. O dirigente teria afirmado que, ao bloquear Romain Grosjean no fim da prova indiana, o campeão de 2007 tinha sido egoísta e não pensado na equipe.

A resposta veio nesta sexta. Raikkonen disse que é duro ouvir que “não tem jogado pela equipe” em uma temporada em que não tem sido pago. E vale lembrar que a Lotus só está na luta pelo Mundial de Construtores graças aos pontos do finlandês.

Para um piloto que geralmente não demonstra emoções, dá para dizer que Kimi está fazendo birra. No momento em que a lua de mel com a Lotus acabou, ele aproveitou para fazer pressão política para mostrar a situação salarial que vive.

Mas também não deixa de ser uma situação constrangedora ver tantos pilotos se oferecendo para pilotar de graça, caso Raikkonen cumpra as ameaças. Numa entrevista, Davide Valsecchi disse que está pronto para correr, mesmo sem receber, se for necessário.

Se tirarmos do contexto da F1, esse cenário beira o absurdo em diversos aspectos. Imagine que em uma empresa os funcionários estão revoltados com a falta de pagamento. De repente, alguém fura o grupo e se oferece à cúpula da organização para assumir um cargo de destaque, mesmo que não seja pago para isso.

Ou seja, além da empresa não precisar mais se preocupar com os grevistas, ainda vai poder economizar no orçamento dos próximos anos, já que sempre tem alguém que aceita trabalhar e não ser remunerado.

Mas a F1 também é um mundo um pouco diferente quando se trata de, digamos, legislação trabalhista. Em um ambiente em que alguns pilotos, na verdade, pagam para poder correr. No momento, em que eles garantem uma vaga sem precisar levar dinheiro – mas também sem receber nada –, já podemos falar que houve algum progresso.

P.S.: Mas e o Grosjean? Alguém sabe se ele está recebendo alguma coisa?

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