
Matthieu Vaxivière foi o grande nome da primeira etapa da F-Renault Eurocup, neste fim de semana, em Aragón. O piloto da Tech 1 largou na pole-position nas duas baterias e venceu de ponta a ponta. Apesar disso, ele não foi o grande destaque da rodada. Quem mereceu todas as atenções foi Naomi Schiff, pilota da África do Sul que estreou na categoria pela equipe RC.
A importância de Naomi é que ela representa a vitória do automobilismo sobre o apartheid, regime de segregação racial da África do Sul. Durante os quase 50 anos do regime, a F1 jamais se preocupou com a situação humanitária do país. Enquanto os negros tinham os direitos negados pela elite branca, a principal categoria do automobilismo mundial andou por lá praticamente todos os anos entre 1960 e 1985 e retornando em 1992, fingindo que tudo estava completamente normal. Uma vergonha para a categoria.
Por outro lado, outras modalidades tiveram uma relação mais drástica com o momento pelo qual a África do Sul passava. No futebol, por exemplo, o país sofreu diversas sanções pelos órgãos que chancelam o esporte e chegou a ser suspenso pela Fifa por cerca de duas décadas.
No início da década de 1990, o apartheid começou a ser extinto, culminando com a eleição de Nelson Mandela, em 1994, sacramentada no dia 10 de maio daquele ano, quando ele tomou posse. Naomi nasceu apenas oito dias depois.

A garota, na verdade, não teve muito a ver com o apartheid. Filha de um belga com uma mulher nascida em Ruanda, a pilota só voltou a morar na África do Sul quando tinha quatro anos de idade. Embora o pai tivesse conquistado um título de F-Ford nos Países Baixos, ela começou a se interessar pelo automobilismo de forma espontânea, sem saber do histórico da família.
Desde então, ela ganhou diversos campeonatos de kart na África do Sul e representou o país em alguns mundiais. Nos últimos anos, correu de F-Volkswagen no país de origem e fez a transição para a Europa, participando de provas de protótipos. Nesse tempo, porém, ela não deixou o kartismo de lado, onde defende o time Zanardi, o mesmo que já teve Nyck de Vries.
De qualquer forma, Naomi não é o primeiro atleta negro a representar a África do Sul no automobilismo. Só para citar um, algum tempo atrás Adrian Zaugg defendia o país na A1 GP e chegou até mesmo a competir na GP2. Entretanto, é inegável que até hoje a maior parte dos pilotos de lá são brancos.
Por isso, ter uma menina negra competindo em um dos principais campeonatos de base do automobilismo mundial é a prova de que o esporte venceu na África do Sul. Enterrando cada vez mais uma história marcada pelo preconceito e palco de F1 que jamais se importou com a origem do dinheiro.