
Uma das fotos mais importantes da história da F1 foi batida em 1986, na ocasião do GP de Portugal. A corrida do Estoril era a antepenúltima etapa daquele ano e tinha quatro pilotos na disputa pelo título. Aproveitando a batalha, Bernie Ecclestone juntou os quatro concorrentes, Ayrton Senna, Alain Prost, Nigel Mansell e Nelson Piquet no pit-wall do circuito para que a histórica imagem fosse feita.
Naquele momento, Mansell era o líder do campeonato, com 61 pontos, seguido por Piquet, Prost e Senna. Porém, quem terminou na frente foi o piloto francês, que venceu uma prova e acumulou dois segundos lugares nas últimas três etapas.
A importância da foto, no entanto, não se resumiu apenas à temporada de 1986. Para você ter uma ideia, desde que Ayrton Senna estreou na F1, em 1984, apenas naquele ano nenhum dos quatro foi campeão. O vencedor acabaria sendo Niki Lauda, que superou Prost por apenas 0,5 ponto. Para compensar, Nelson Piquet já tinha conquistado dois títulos mundiais.
A partir daí, a F1 foi dominada pelo quarteto. Senna foi tri, Prost conquistou o tetra, Mansell venceu em 1992 e Piquet levou mais uma taça para casa. O domínio só terminou em 1994, quando Ayrton morreu, Mansell já estava na Indy e os outros dois se aposentaram.
Mas é claro que o legado deles continuou na categoria. Piquet, Prost e Mansell tiveram filhos que militaram pelos campeonatos de base do esporte a motor. Senna, obviamente, não. Mas todo mundo sabe que o brasileiro inspirou o sobrinho Bruno, que recentemente trocou a F1 pelo Mundial de Endurance (WEC), onde vai disputar o campeonato pela equipe de fábrica da Aston Martin.
Curiosamente, Bruno não é o único, digamos, descendente que viu nas corridas de longa duração a oportunidade de continuar a carreira. No WEC, o sobrinho de Ayrton vai encontrar Nicolas Prost, filho do tetracampeão francês.

O piloto de 31 anos começou tarde no automobilismo, mas conseguiu alguns bons resultados nas categorias de base, como o terceiro lugar na F3 Espanhola e o título da F3000 Europeia (hoje AutoGP), quando correu contra Luiz Razia. Apesar disso, ele não encontrou uma vaga na F1 e passou a se dedicar ao endurance, onde compete pela Rebellion, melhor equipe da divisão LMP1, sem ser os protótipos de fábrica.
A prole de Mansell também não foi capaz de repetir o sucesso do pai. Durante anos, Leo e Greg Mansell militaram nas categorias de base, mas sem resultados expressivos. Com isso, o pai Nigel decidiu que estava na hora de levá-los às corridas de longa duração e para isso comprou uma equipe – a Beechdean – para que os dois competissem em 2010.
A tática até que deu certo, e os irmãos Mansell venceram a etapa de Hungaroring da Le Mans Series, quando o poderoso Peugeot da Oreca teve problemas mecânicos. No ano seguinte, os dois foram chamados pela Lotus para competir na Blancpain Endurance Series. Ao lado do italiano Edoardo Piscopo, os resultados até que foram bons, e o trio conquistou duas vitórias na classe GT4 em cinco corridas.
Apesar desse sucesso razoável, o grande momento dos Mansell no endurance veio na edição de 2010 das 24 Horas de Le Mans. Naquela prova, Nigel se juntou aos dois filhos para competir em família pela primeira vez na carreira. O problema é que o veterano estava fora de forma e se acidentou ainda na quarta volta da prova, forçando o abandono do time. Depois disso, Greg passou a se dedicar ao ciclismo, enquanto Leo continua sendo filho de Mansell.
No caso dos britânicos, por serem irmãos, isso certamente prejudicou a carreira. Durante muito tempo, os dois garotos competiram na mesma categoria e até pela mesma equipe. O problema é que, como acontece com qualquer atleta, o desenvolvimento de cada um foi diferente. Mesmo mais jovem, Greg se mostrou mais talentoso, mas precisou seguir o irmão por aí. No fim, quando se separaram, o caçula ainda chegou a correr na World Series by Renault, mas não teve sucesso. Outro problema de ter um irmão no automobilismo é que os custos são multiplicados por dois.

Por fim, chegamos a Nelsinho Piquet. De forma curiosa, a experiência do piloto erradicado em Brasília nas corridas de longa duração veio antes de ele chegar à F1. Em 2006, foi convidado para correr em Le Mans, fechando com a quarta colocação na categoria GT1 pilotando um Aston Martin – que coincidência, não? – ao lado de David Brabham e Antonio Garcia. Esse ano, ele voltou às corridas de 24, em Daytona, com Felipe Nasr e Christian Fittipaldi.
Concluindo, não é nenhuma coincidência que quatro dos cinco descendentes dos campeões terem optado pelo endurance, ao invés do DTM, Nascar ou campeonatos semelhantes. A primeira justificativa para isso é óbvia. Há mais vagas nas corridas de longa duração. Em Le Mans, por exemplo, competem 56 trios, ou 168 pilotos. Muito mais que os 22 do DTM ou os 43 da Nascar.
Outro motivo é o desenvolvimento técnico. As equipes da LMP1 só perdem para F1 em termos de estrutura e espaço para trabalhar no carro, incluindo compostos para serem usados nos veículos de rua. Por isso, é natural que haja um investimento muito maior das montadoras nesse tipo de categoria. E se tem a fábrica colocando dinheiro, então as escuderias podem ir atrás de quem quiser.
Para ficar claro, não estou dizendo que o endurance é melhor que o DTM ou a Nascar. Pelo contrário, são categorias distintas com foco diferente. E a carreira de Nelsinho Piquet resume bem isso. Basta ver todo o esforço que ele está tendo para chegar à Sprint Cup da Nascar, enquanto pôde correr em Le Mans quando ainda estava na GP2.

excelente o seu trabalho Felipe. Parabéns.
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