A segunda-feira, dia 28, foi marcada pelo lançamento do novo carro da Lotus para a temporada de 2013 da F1. No entanto, a principal notícia daquele dia foi a redução da F3 Inglesa para apenas quatro etapas neste ano – sendo apenas duas na ilha da Grã-Bretanha – por causa da crise gravíssima que a categoria atravessa.
De acordo com o promotor do campeonato, Stephane Ratel, acabar com seis etapas foi a forma encontrada para a sobrevivência do certame. Sem isso, o torneio morreria após 62 anos de história, tendo revelado 12 pilotos brasileiros campeões.
Claro que essa foi a versão contada por Ratel. Muito provavelmente, manter a F3 Inglesa mesmo com um número mínimo de provas deve ter sido a solução para respeitar contratos já firmados e evitar possíveis batalhas judiciais. Vale lembrar que o próprio Ratel também é o comandante de certames como a F-Renault UK (extinta no início de 2012) e o GT1 (que sofre com grids pequenos e a ameaça de extinção faz três anos).
Entretanto, dessa vez não dá para jogar toda a culpa no organizador. Se for para acusar Ratel de alguma coisa, é apontar que ele criou todas as condições para que o campeonato acabasse, embora ao mesmo tempo tenha feito de tudo para garantir a sobrevivência.
Esses dois aspectos parecem contraditórios, certo? Verdade, mas eu explico. Acredito que, tirando a F1, o que mantém um campeonato vivo é a presença das equipes pequenas, aquelas que já sabem que vão perder antes mesmo de a temporada começar.
Para efeito de comparação, em 2008, ano conhecido como ressurgimento da F3 Inglesa com a chegada de empresas como Telmex e Red Bull, dez equipes disputaram a temporada completa, com cinco delas vencendo corrida. Esse número caiu para nove, em 2009; oito, em 2010; seis, em 2011 e apenas quatro no ano passado.
Nesse tempo, até mesmo as equipes tradicionais sofreram. A Hitech passou a se dedicar apenas à F3 Sudamericana, a Double R foi vendida por Kimi Raikkonen e Steven Robertson para Anthony Hieatt, e a T-Sport precisou se aliar à Nissan para ter condições de inscrever um carro no certame.
Isso começou a acontecer por um motivo: passou a ficar muito carro perder para a Carlin. Com a escuderia tendo conquistado os últimos cinco campeonatos, os pilotos perceberam que só teriam condições de vencer corridas e lutar pelo título se estivessem no time de Trevor Carlin. Assim, quem tinha dinheiro assinou com eles, os demais buscaram outros campeonatos.
E a SRO nada fez para mudar essa situação. Pelo contrário. Eles continuaram dificultando a vida das equipes menores aumentando os custos de competição ao adotar um novo carro no ano passado. Com isso, em 2012, o que se viu foi um duelo entre a Carlin (que contava com apoio de fábrica da Volkswagen) e a Fortec (com apoio da Mercedes). Os demais times eram meros coadjuvantes.
Enquanto isso, a F3 Inglesa começou a dividir a pista com a F3 Euro em algumas etapas, como uma forma de diminuir a crise nos dois campeonatos e aumentar a competitividade. Com quase 30 carros inscritos, essas provas foram um sucesso e deixaram maravilhado Gerhard Berger, apontado pela FIA há um ano e meio como responsável pelo gerenciamento das categorias de base do automobilismo.
Assim, o ex-companheiro de Ayrton Senna na F1 entendeu que o único jeito de a F3 sobrevier era se os campeonatos inglês e europeu se fundissem. Isso foi passado para Ratel, que negou prontamente. Afinal, não seria apenas uma união, já que a FIA passaria a comandar tudo, enquanto a SRO chuparia o dedo.
Para piorar, embora Ratel não tivesse aceitado a proposta, as montadoras começaram a fazer pressão para que Fortec e Carlin trocassem a F3 Inglesa para correr na F3 Euro, pois fazia mais sentido não ficarem limitadas apenas ao mercado britânico.
Com a ameaça de perder os dois principais times, Ratel trabalhou em montar um calendário em que não houvesse choque de datas entre os dois certames. Assim, tanto Carlin e Fortec quanto os times já confirmados do europeu poderiam disputar ambos os campeonatos. Além disso, ele montou uma série de regras com o objetivo de atrair novas escuderias. Eu até escrevi um post sobre isso, que você pode clicar aqui para relembrar.
Do outro lado, Berger não gostou nada da reação. Para evitar a concorrência da F3 Inglesa, o austríaco recriou uma antiga regra que impede os pilotos da F3 Euro de treinar e correr em circuitos que ainda vão receber a categoria. Como Brands Hatch, Silverstone, Paul Ricard e Nurburgring estavam em ambos os calendários, isso significou que mesmo os times da F3 Inglesa não podiam andar nessas pistas.
Claro que também não era uma coincidência que as etapas da F3 Euro nesses circuitos estavam marcadas para após as corridas do certame britânico. Ou seja, antes mesmo de o campeonato inglês começar, já havia a certeza de grids enxutos nessas provas.
Como resultado, a única alternativa encontrada por Ratel foi cortar o calendário para quatro etapas – Brands Hatch, Silverstone, Spa-Francorchamps e Nurburgring –, com elas acontecendo após as corridas da F3 Euro.
Com isso, 2013 vai ter uma situação inédita no automobilismo. A Inglaterra vai receber apenas 14 corridas da F3 neste ano. Além das duas rodadas triplas da F3 Inglesa, a F3 Euro também disputa seis provas entre Brands Hatch e Silverstone e a F3 Espanhola faz mais duas em Silverstone. Esse número é menor que as etapas da F3 Sul-americana no Brasil. O calendário do certame aqui do Cone Sul tem 18 etapas programadas para este ano, sendo 16 aqui no país e duas na Argentina.
Muito bom entender o motivo da decadência da categoria. Mas dá pra resumir o que acontece no automobilismo em geral de uma forma bem simples: crise econômica mundial. A má distribuição de grana e o excesso de consumo, inclusive dos que não tem (através do crédito), fez com que a economia entrasse numa crise sem perspectiva de crescimento por um bom tempo. E quem tem grana hoje, sabendo dessa situação, o que faz? Corta as despesas. Todo mundo sabe que automobilismo não é investimento. Então, aonde serão esses cortes? Nos itens mais caros, e principalmente, com menor retorno. No caso, automobilismo.
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Caro Giacomelli,
Na contra mão da F3 Britânica, creio que em 2013 teremos grandes surpresas na F3 Sul-Americana… Ou será o fim desta também…!!
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Aqui como lá o automobilismo de base está acabando, logo
teremos gente pulando do Kart para GP2.
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Desde surgiu em 2003, imaginei que uma F-3 Européia fatalmente acabaria com os certames nacionais (ao menos daquele continente), que acabariam se resumindo a F-3 B (Light) e concorreriam com as F-Renault da vida (nacionais e européia). Me surpreende que, somente com essa crise mundial, é que de fato isso aconteceu.
Pensava eu que somente os certames fora da europa (que sempre foram para a maioria dos pilotos locais um degrau anterior às F-3 européias) não sofreriam tanto com a criação de uma F-3 euro.
Aliás, semre achei contraproducente um piloto que correu na F-Renault Européia ter que voltar a um certame nacional de F-3 e só então seguir para a GP2.
Para mim, um caminho mais normal seria que os certames nacionais se resumissema às mais variadas F-Júnior ou no máximo à uma F-Renaul ou similar. Depois viria a F-Renault Euroséries, a F-3 Euro e a GP2. Comessa crise e ausência de piltos para investir, a tendência é que o automobilismo (monoposto) de base (se não minguar ainda mais) se resuma a algo assim…
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Muito elucidativo o texto Felipe – parabéns!
(PS: Tira este 29 do cretino do Harvick e coloca o 18 na sua imagem… rs)
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Felipe,
você é um excelente jornalista.
Seus textos, seja qual for o assunto que você aborde, são fáceis de compreender.
E as suas opiniões são sempre sensatas e perspicazes.
Leio muitos blogs de automobilismo, nacionais e internacionais, e considero que o seu é o melhor.
Grande abraço.
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Oi Flávio, tudo bem?
Muito obrigado pelos elogios quanto blog! Estamos aí sempre tentando fazer o melhor.
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