Raffaele Marciello
Não há muitas dúvidas de que Raffaele Marciello é bom piloto, mas será bom o suficiente para um dia correr pela Ferrari na F1?

A Ferrari nunca foi conhecida por revelar jovens pilotos para a F1. Pelo contrário. Nos últimos anos, a equipe ficou marcada por negociar de forma agressiva com os competidores e pagando o que fosse necessário para contar com os atletas que quisesse. Dessa forma, o time trouxe Michael Schumacher, Kimi Raikkonen e Fernando Alonso.

Por isso, até foi uma surpresa a Ferrari ter anunciado em 2010 a criação de um programa para jovens pilotos, a Ferrari Driver Academy.

No entanto, a postura da escuderia não foi tão diferente. O time até montou um plantel recheado de jovens italianos e garotos promissores que estavam deixando o kart, mas os principais nomes – Jules Bianchi e Sergio Pérez – praticamente foram contratados, já que a equipe italiana praticamente não teve participação no desenvolvimento deles como pilotos.

Assim, enquanto Pérez e Bianchi chegavam à F1, os demais garotos da Academia da Ferrari sofriam para mostrar resultado. Após apenas um ano, Mirko Bortolotti e Daniel Zampieri foram cortados do programa. Já Raffaele Marciello e Brandon Maisano, mesmo com o título da F-Abarh de 2010, tiveram uma temporada para esquecer na F3 Italiana, no ano seguinte, onde não só ficaram longe da disputa pelo título como também perderam a batalha do novato do ano para o americano Michael Lewis.

Só que as coisas mudaram em 2012. Ao que tudo indica, Marciello finalmente parece ter pegado a mão do automobilismo. Depois de um desempenho decepcionante na Toyota Racing Series, no início do ano, o piloto vem surpreendentemente vem conseguindo bons resultados na F3 Euro Series. Aliás, mais do que isso, o garoto de apenas 17 anos se tornou o piloto dominante do certame.

Das últimas dez corridas disputas, o italiano venceu seis, sendo que apenas um triunfo em Hockenheimring aconteceu na corrida curta, com o grid invertido. O desempenho do piloto é tão bom que ele não tem se importado com o regulamento. Em Pau, quando a F3 Europeia correu segundo as regras da F3 Inglesa, Marciello venceu com facilidade as duas corridas e deu início à arrancada. Na sequência, foram dois triunfos nas corridas principais em Brands Hatch, além de mais uma vitória no Red Bull Ring, em Zeltweg.

Raffaele Marciello
O surgimento de Marciello também coincide com a saída dos pilotos italianos da F1

Enquanto isso, Marciello também se mostrou um piloto mais maduro, já que apenas nas corridas na França ele largou na pole-position. Nas demais, o garoto soube esperar os erros dos adversários para contabilizar as vitórias.

E a tática tem dado certo. Por exemplo, nesse tempo todo, ninguém falou de Carlos Sainz Jr. O piloto da Red Bull, favorito absoluto ao título da F3 Inglesa e um dos nomes mais badalados das categorias de base, esteve em todas essas corridas, mas sequer subiu ao pódio. Ou seja, nesse primeiro duelo entre Ferrari e RBR, os italianos parecem ter levado a melhor.

Por outro lado, o bom desempenho de Marciello ainda gera alguma desconfiança. Da mesma forma que o garoto apareceu praticamente do nada para dominar a F3 Europeia, ele também pode desaparecer caso enfrente uma sequência de maus resultados. Mas supondo que o piloto consiga manter a boa fase na carreira, aí fica uma dúvida: será que a Ferrari está preparada para lidar com um prodígio em seus domínios?

Em algum momento, Marciello vai completar seu desenvolvimento como piloto. Se tudo der certo, daqui uns dois ou três anos, a expectativa é ver o piloto chegar à GP2 e começar a brigar por vitórias e por títulos. Mas e depois? A Ferrari nunca foi conhecida por apostar em jovens pilotos. Com o time tendo Pérez e Bianchi (além de Fernando Alonso e talvez Felipe Massa) e também podendo contratar qualquer nome do grid será que há espaço para a nova revelação?

A tendência é que a resposta seja não. No momento, se Marciello um dia chegar à F1, deve acabar emprestado pela Ferrari à alguma equipe e só acabaria contratado caso mostrasse que está pronto para pilotar os carros vermelhos. Outra opção seria o piloto ser contratado para a função de reserva e apenas figurar pelo paddock da categoria enquanto pilota carros GT em outros certames.

Certamente, a Ferrari sofreria com a pressão da mídia – e da torcida – italiana para escalar um jovem piloto do próprio país, mas nada que afetasse as decisões de Maranello. A GP2 já produziu uma série de competidores da Velha Bota e nenhum chegou à categoria principal pelo time italiano.

Assim, o sucesso de Marciello deve deixar a Academia da Ferrari ainda mais questionada. Se por um lado o programa terá mostrado que pode revelar bons pilotos, do outro ficará a dúvida se esses atletas são bons o bastante para pilotar para a Ferrari. Apenas chegar à F1 já é algo difícil, mas daí a ser contratado pela equipe mais tradicional do grid já é outra história.

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