Conor Daly foi esperto. Assim que venceu em Barcelona, rapidamente pegou a bandeira americana para comemorar

Dizer que, em se tratando de automobilismo, americano não gosta de F1 e só acompanha a Nascar não é mentira. Mas é uma generalização que não conta toda a verdade. É a mesma coisa que falar que o esporte a motor terminou para os torcedores brasileiros com a morte de Ayrton Senna. Para muita gente, realmente aconteceu isso, mas ainda tem quem acompanhe a modalidade.

Por que estou dizendo isso? É que esse post trata sobre o automobilismo americano voltado para a F1. Eu sei que a maior parte dos estadunidenses não está preocupada com a categoria de Bernie Ecclestone, mas o assunto desse texto é justamente aqueles que estão. Então quando eu falar americanos é sobre esse pequeno grupo ao qual estou me referindo.

Digo isso pois o interesse pela F1 deve aumentar na terra de Barack Obama. Além de dois GPs a partir das próximas temporadas, o país da América do Norte está cada vez mais próximo de voltar a ter um representante na categoria máxima dos monopostos, algo que não acontece desde Scott Speed.

Neste final de semana, em Barcelona, Conor Daly venceu a corrida curta da GP3. O garoto, que é filho do ex-piloto irlandês Derek Daly, mas possui cidadania americana, aos poucos vem se tornando a principal esperança dos EUA de retornar à F1. Além do bom desempenho na categoria de acesso e uma série de patrocinadores dispostos a abrir o bolso, Conor também se está se beneficiando da má-fase de Alexander Rossi, que ainda não conseguiu estourar na Europa.

O momento de Daly é tão bom que o garoto foi chamado pela Force India para participar de um teste aerodinâmico em linha reta na Inglaterra. Apesar de a atividade parecer boba, ela tem alguma importância já que será a estreia do americano em um carro da F1.

Apesar disso, nada garante que Conor Daly consiga chegar à categoria principal. Por exemplo, em 2011, o vencedor da corrida curta de Barcelona da GP3 foi Tamas Pal Kiss e mesmo a Hungria sediando um GP de F1 você não vê o piloto especulado por alguma equipe.

Felix Serralles escolheu defender as cores de Porto Rico na Europa

Só que Conor é um alento para a má-fase dos Estados Unidos nas pistas europeias. Na realidade, os pilotos americanos nunca foram tão vencedores no Velho Continente, o problema é que eles não se identificam com os EUA. Nos últimos anos, Gabby Chaves, Felix Serralles e Eddie Cheever III deixaram as categorias de base norte-americanas para tentar um lugar na F1.

Tirando Chaves, que já retornou à América e disputa a Star Mazda, os outros dois seguem firme e forte na F3, tendo inclusive já vencido corridas em 2012. O problema é que eles optaram por defender outros países nas pistas. Gabby Chaves, por exemplo, passou boa parte da carreira correndo com a licença norte-americana. No entanto, de dois anos para cá, o garoto resolveu voltar a representar a Colômbia, onde de fato nasceu.

Serralles passa por um problema ainda mais complicado. O garoto nasceu em Porto Rico, que não deixa de ser um território norte-americano, então pode optar por qualquer uma das duas nacionalidades. Durante muito tempo, Felix correu mesmo com a licença dos EUA, principalmente para se aproveitar das bolsas dadas aos pilotos nascidos por lá. Só que desde que começou a competir na Europa, em 2011, ele assumiu de vez a identidade porto-riquenha.

Cheever, por fim, é filho daquele Eddie Cheever que esteve na F1 na década de 1980 e depois também fez carreira na Indy. A exemplo de Serralles, ele também correu com a bandeira americana no início, mas acabou optando pela cidadania italiana quando foi competir na Europa. Não por acaso, Cheever é o atual líder da F3 Italiana.

Sem ter maiores opções no mercado, os americanos acabavam torcendo mesmo por esses pilotos. Mas devia ser bem frustrante no fim do dia ter que ouvir o hino de outro país e não rolar aquela comemoração.

Eddie Cheever III, por sua vez, optou pela licença italiana enquanto persegue a F1

Com Conor Daly, no entanto, as coisas mudaram. O piloto, digamos, realmente veste a camisa, com direito a comemorar a vitória com a bandeira americana. É claro que tem um pouco de autopromoção perante os fãs. Mas é essa identificação entre torcida e atleta que justamente pode levar a F1 a voltar a fazer sucesso um dia nos Estados Unidos.

Para encerrar, é curioso como a ascensão de Daly coincide com certo declínio de Alexander Rossi. O atual piloto reserva da Caterham era cotado para ser o próximo americano na F1, mas a falta de resultado – e de patrocínios pessoais – pode acabar pesando. Assim, pode ser que a experiência de Rossi na categoria fique resumida apenas a alguns treinos livres de sexta-feira. O que é uma pena. Na comparação direta, acho que Rossi é mais piloto. Só faltou um lobby maior durante a carreira e provocar essa identificação com a torcida.