largada GT1
O GT1 começou repaginado, mas em uma pista no meio do nada em plena segunda-feira

Em uma notícia não muito importante sobre o final de semana automobilístico na Páscoa, a temporada 2012 do GT1 deu o pontapé de partida no circuito de Nogaro, na França. Na realidade, a corrida aconteceu apenas nesta segunda-feira, dia 9, mas o evento fez parte do feriado.

Neste ano, o GT1 passou por uma nova reformulação para tentar continuar existindo. Stéphane Ratel, o cara que organiza o campeonato, decidiu no final do ano passado que não seria possível continuar o certame com pouco interesse de montadoras. Assim, ele resolveu mudar as regras na última hora, aproximando as configurações dos carros com as que são utilizadas no GT3.

A estratégia até que deu certo, e o campeonato conseguiu atrair Ferrari, McLaren, Mercedes, Lamborghini, Audi e BMW, com a maioria contando com times de fábrica. Além das especificações do campeonato, as montadoras ficaram interessadas na nova forma de disputa que limitou o fornecimento de carros para apenas uma equipe. Ou seja, somente um time alinha carros da Ferrari, que compete contra outro que inscreve as McLaren e etc. Isso acabou gerando uma maior identificação das marcas, além de poupar recursos.

Só que mesmo com essa melhora, o campeonato quase não aconteceu. Por contrato, o GT1 só pode acontecer caso haja nove equipes – 18 carros portanto – confirmados. Até o início do ano, apenas as seis fabricantes listadas acima havia se interessado em participar do certame, então, o que fazer para salvar a categoria?

Obviamente, Ratel foi atrás de novos times. Sem nenhum pudor, o dirigente afirmou que ele próprio comprou os carros, arrumou equipes para prepará-los, times para inscrevê-los e até mesmo buscou pilotos para competir. Assim, com a entrada (retorno) da Aston Martin, da Ford e da Porsche, o campeonato chegou aos 18 carros confirmados.

Ferrari GT1
No retorno ao GT1, a Ferrari conta com apoio da fábrica

Ratel em nenhum momento se incomodou ao falar que está pagando para que essas equipes corram e completem o grid. O chefão até disse algo como “você acha que a A1GP e a F-Superleague não faziam esse tipo de coisa? A única diferença é que eu não escondo isso” à revista Autosport.

Mesmo com esse pagar para correr, as equipes no geral ficaram satisfeitas, já que os patrocinadores também se empolgaram com a nova fase do campeonato. Com tanto interesse pelas marcas mais famosos, todo tipo de investidor se aproximou do certame para aparecer em algum dos carros.

O problema de tudo isso é que a rodada de abertura aconteceu em uma segunda-feira no circuito francês de Nogaro, que fica no meio do nada. Por mais que a pista tenha passado por algumas reformas estruturais nos últimos anos, ela não tem a menor condição de receber eventos grandes como o GT1 deveria ser tratado. Além de estar localizada no meio do nada, a pista mal tem arquibancadas, e o traçado praticamente impede que ultrapassagens sejam feitas.

Ou seja, Ratel buscou as grandes montadoras, depois pagou para que equipes privadas completassem o grid, mas resolveu levar o seu campeonato a uma pista que sequer está no segundo ou terceiro escalão do automobilismo. Só na França, correr em Magny-Cours, Paul Ricard, Pau e até mesmo Le Mans (no traçado de Bugatti) parece algo mais coerente.

A situação não para por aí. As quatro primeiras etapas acontecem em pistas que estão bem longe de figurarem entre as principais praças do esporte a motor. Depois de Nogaro, o GT1 corre em Zolder (que é clássica, mas deveras ultrapassada), em Navarra e no Slovakiaring.

Depois, há uma etapa em Portimão, que parece ser o único acerto do calendário, antes de duas rodadas na China, além de provas na Coreia do Sul, Rússia e Índia.

No final, é bastante interessante pensar se não há público para o GT1 nos principais países europeus. Quer dizer, um campeonato contando com nove grandes empresas – sendo seis de forma quase oficial – não geraria interesse em locais tradicionais como Reino Unido, Alemanha ou Itália? Será que não tem condições de o GT1 correr em locais como Silverstone, Spa-Francorchamps, Paul Ricard, Barcelona, Hockenheim ou Monza?

Acho que não. Vendo pelo calendário detalhado acima, a impressão que passa é que Ratel levou o GT1 para correr nas pistas que estiveram dispostas a fazer de tudo para sediar uma corrida, talvez até mesmo pagar para trazer a categoria ao invés de cobrar aluguel.

Não é absurdo pensar que os organizadores da etapa do Algarve, por exemplo, estão desesperados para atrair qualquer categoria grande. O circuito luso foi um grande investimento, mas não conseguiu fixar uma agenda de competições entre os principais campeonatos do mundo. Miraram a F1, mas mal recebem F3.

A pista coreana está ameaça de deixar a F1 porque é pouco lucrativa. O circuito de Yeongam é fruto de uma especulação imobiliária mal sucedida e agora corre contra o tempo para não virar um elefante branco e um prejuízo absurdo para os organizadores e promotores. A Índia não está em crise, mas vendo os exemplos luso e coreano já começou a se movimentar. Por fim, China e Rússia é onde o dinheiro está.

No fim, não adianta muito fazer um campeonato com esses supercarros para ninguém ver. Por mais que haja transmissão ao vivo no site oficial da categoria, é difícil apostar em uma categoria em que o próprio calendário joga contra.