
A bolha da Lotus finalmente pode ter estourado. De forma até mesmo surpreendente, a equipe de Eric Boullier e Gerard López, anunciou nesta sexta-feira, dia 6, o rompimento do contrato com a montadora inglesa. Assim, o time segue com o nome de Lotus, mas não tem mais nenhuma ligação com a montadora inglesa.
O que surpreende nessa história é que quem optou pela rescisão foi o time e não a fabricante. No final do ano passado, o Group Lotus foi vendido pela Proton – controlada pelo governo malaio – para o fundo DRB-Hicom. Como parte da transação, as contas da montadora foram congeladas, o que é de praxe de acordo com a legislação malaia.
Nesse período em que as contas da fabricante não puderam ser usadas, os dirigentes do grupo de investimento certamente analisaram a entrada da montadora no automobilismo, nos últimos anos, e com toda certeza devem ter percebido que era uma atividade deficitária.
Afinal, com a Lotus presente em categorias como F1, Indy, WEC, competições Gran Turismo, GP2, GP3 e F3, certamente o orçamento destinado ao esporte a motor é bastante elevado. Por outro lado, a única receita é via encomenda de novos carros de rua.
De certa forma, o planejamento do Group Lotus deu certo. Com a entrada em todos esses campeonatos, o interesse pelos carros aumentou vertiginosamente. No entanto, era evidente que mesmo com o crescimento no número de encomendas, seria impossível igualar as despesas com o esporte a motor.
Com isso, a própria produção dos carros ficou comprometida. Mesmo que as fábricas operassem em total capacidade, elas jamais conseguiriam fabricar novos modelos no mesmo ritmo necessário para atender as demandas. Para piorar, com o congelamento das contas, os atrasos na entrega dos novos carros se tornaram constantes.
Dentro desse contexto, não é impossível imaginar que a equipe da F1 rompeu o contrato com a patrocinadora justamente para evitar um calote. Em um momento que o time vai bem e tem condições financeiras de se manter ativo na categoria, talvez a rescisão tenha significado uma forma de defesa para que ele não afundasse junto com a montadora.

Por outro lado, o mesmo não pode ser dito do futuro das demais equipes apoiadas pelo Group Lotus. Na Indy, por exemplo, as escuderias com os motores ingleses sequer puderam treinar em Indianápolis pela falta no fornecimento de propulsores. Tanto é, que a organização da categoria americana já contatou Honda e Chevrolet para saberem da possibilidade de abastecerem os times da Lotus caso a montadora saia fora na metade do campeonato.
Só que por pior que seja a situação na F1 e na Indy, de certa forma está contralada. É claro que haverá prejuízos, principalmente no campeonato americano, mas os dirigentes desses certames já estão de olho para fazer o possível para contar a crise.
Consequentemente, quando mais para baixo formos na escala das categorias, maior será o impacto de um eventual calote. Em 2012, por exemplo, a Gravity-Charouz (World Series by Renault) e a Motorpark Academy (F3 Alemã e ADAC Masters) fecharam parceria com a fabricante inglesa, onde pintaram os carros de preto e dourado e passaram a se chamar Lotus.

Ao todo, são 12 carros entre essas equipes, sendo seis apenas para competir na ADAC Masters. Agora imagina a estrutura que esses times precisaram arrumar para alinhar tantos carros assim. Ou seja, a Lotus caindo fora deve transformar tudo em um castelo de cartas.
Entretanto, minha intenção não é ser algum tipo de arauto do apocalipse dizendo que o automobilismo de base está perdido sem a Lotus. Não está. A grande questão aqui para pilotos e equipes é o tempo que vão precisar para se reestruturar após o fim da parceria com a montadora – isso caso realmente aconteça.
Nesse momento, a corda deve apertar para quem tem o orçamento mais apertado. Esteban Gutiérrez corre no carro da Lotus GP – antiga ART – na GP2, mas conta com o apoio da Telmex e da Fastenal. Caso a fabricante caia fora, não há dúvidas de que a equipe de Frédéric Vasseur tenha todas as condições de se manter na ativa, com Gutiérrez como piloto principal. Mas será que todos os dez garotos entre F3 Alemã e ADAC têm essa condição?
No final, a bolha da Lotus ensina que o automobilismo é um esporte caro e bastante elitista. Só para entrar na F1, já é necessários desembolsar uma boa soma de dinheiro, quem dirá participar de todos os campeonatos em que a Lotus esteve. Assim, são poucas as empresas no globo que conseguem fazer parte desse grupo restrito. A Lotus apostou num backup do governo malaio para tentar o pulo do gato e entrar nesse círculo. Não deu.
Talvez se a fabricante tivesse aliado a expansão no esporte a motor com o desempenho fiscal na venda dos carros, o resultado talvez fosse outro. Enquanto isso, Dany Bahar e sua trupe do Group Lotus podem dormir orgulhosos sabendo que jamais se falou tanto na montadora como nos últimos dois anos, desde a chegada à F1. Porém, infelizmente para eles, esse sucesso não foi o suficiente para bancar a entrada em quase todos os campeonatos existentes no mundo.