Nasser Al-Attiyah
Nasser Al-Attiyah fez um Dakar sem aparecer muito e conquistou o título da competição ao se aproveitar dos problemas de Sainz e Peterhansel

A sorte não parecia estar do lado de Nasser Al-Attiyah durante a história do Dakar.O qatari apareceu como uma surpresa quando a competição ainda era disputada na África, mas foi na América do Sul que ele se firmou como um dos principais pilotos do mundo na modalidade. Se no caminho para o Senegal, Al-Attiyah era um azarão, vindo do longinquo Qatar, que conseguia uma vitória aqui outra lá, no Chile e Argentina, ele se consolidou como candidato ao título.

Mas a sorte era sempre um empecilho. Duas edições antes, ainda competindo pela BMW, o representante do Catar foi desclassificado do evento por pular quatro postos de controle, quando detinha uma liderança confortável. No Dacar de 2010, nova decepção. Com seis pneus furados ao longo do percurso, o piloto foi impedido de conquistar o título, ficando apenas 2min12s atrás de Carlos Sainz.

Sem margem para o azar, a vitória de Al-Attiyah é interessantíssima. Primeiro, um cara do Qatar – que sabiamente dúvida que eu alguém consiga localizar exatamente o país no mapa – venceu a edição 2011 do maior rali do mundo. Depois, precisamos entender que Nasser não é um Zé Ninguém do país asiático. Ele é apenas um dos príncipes do lugar. Como o piloto é parente de uma mulher que amamentou o emir (governante máximo do país) local, Nasser Al-Attiyah ganhou o título de príncipe. E por fim, ele quase foi medalhista olímpico em uma das modalidades de tiro nos Jogos Olímpicos da Grécia, em 2004. Na ocasião, o qatari perdeu o desempate pela medalha de bronze para um cubano.

Infelizmente, o príncipe piloto atleta olímpico não vai ganhar nenhum prêmio, em qualquer restrospectiva lá no fim de dezembro, de melhor piloto de rali do ano. Se, no WRC, Sebástian Loeb conquistar mais um título (oito?) certamente ficará com todos as glórias. Caso alguém derrote o francês, ficará com as honras por ter vencido o megacampeão.

Chegamos a uma conclusão: Nasser, entre no WRC e vença o Loeb, por favor. Grato.

Nasser Al-Attiyah
Noss campeão do Dakar em plena Olimpíadas de Atenas. No tiro, ele terminou em quarto

Piadas a parte, ficou claro que o qatari não vai ser reconhecido pela conquista do Dakar. Tudo bem. Agora imaginem alguém que é heptacampeão do maior rali do mundo. Que venceu 63 especiais na carreira, mais do que qualquer outro piloto na história da competição. Que detém o maior número de vitórias em uma mesma edição do Dakar. Que conseguiu virar uma situação de mais de 30 mins de atraso para uma vantagem do mesmo tamanho em uma única especial sem que os adversários tivessem problema.

O dono de todos esses feitos é Vladmir Chagin, que pilota um caminhão Kamaz. Todos os feitos listados acima poderiam colocar o ‘czar’, como ele é chamado, como o principal piloto da história do Dakar. Claro que isso não vai acontecer. O russo deve ser mais uma vez premiado na terra natal apenas. Talvez a Red Bull decida fazer mais um vídeo promocional sobre ele, mas os prêmios e homenagens vão parar por aí. Uma pena.

Por fim, Alejandro Patronelli fez história. Se tornou o segundo argentino a vencer o Dakar. Não só isso, foi a primeira vez que irmãos venceram a competição em anos consecutivos, já que, em 2010, a vitória entre os quadriciclos ficou com Marcos Patronelli. E sabe o que é mais legal? Eles sabem que amanhã vão sair na rua e, salvo raríssimas exceções, ninguém vai reconhecê-los. Por isso, já planejam correr nos carros a partir de 2012. Não seria surpresa se os brothers aparecessem na equipe de Robby Gordon.

Para finalizar esse post, preciso dizer que eu não estava falando sério. O tom de desabafo quanto à falta de reconhecimento deles não é real. Na realidade, a minha única intenção era só mostrar que no Dakar, uma competição sem muito destaque por aqui, também tem boas histórias.

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